domingo, 23 de setembro de 2012

ALZHEIMER

À noite, Joana subiu ao alto da montanha para ver a cidade. Uma metrópole iluminada cujos limites desapareciam no infinito. Aos poucos vão se apagando algumas luzes. Umas aqui, outras acolá. A cidade vai perdendo seu brilho. Sua luminosidade vai decrescendo. Ninguém ficou por último para apagar a última luz. Joana dormiu seu último sonho.

quinta-feira, 22 de março de 2012

DECIFRANDO

Para uns a vida é tudo.
Para outros a vida é nada.
Alguns a decifram com uma lupa.
Outros se debruçam sobre uma pequenina janela.
Uns se vestem de luto, para ver a tristeza passar.
Outros se dobram sobre a melancolia para ver o outro lado dela.
Existem os que dão uma risada, por pouca coisa ou quase nada.
Mas há quem tenta existir e anda a chorar e a sorrir.
Existem os que sorriem sem sorrir e choram sem chorar.
Há o que sorri por dentro e por fora e assim também chora.
Há os que dão adeus muito antes de partir.
Há os que partem sem nunca ter ido embora.

sábado, 17 de março de 2012

POEMA AO ABSOLUTO

A Realidade Última,
o Supremo Absoluto,
o Profundo Mistério,
quando bateu em mim,
no lago de minha alma,
assim como as pedras
atiradas pelos meninos
nas tardes domingueiras
(todas as tardes são
vestidas de domingo, quando
se é menino),
fazem ondas do centro à
periferia,
o toque do Eterno emanou pétalas
que se abriram continuamente,
como a luz do mais belo dia,
e vão se abrindo à medida
que avanço em Sua direção,
na mesma sinfonia;
quando mais me aproximo,
mais se distancia,
e nisto está Sua grandeza
infinita... buscá-LO por toda a vida,
é mais importante que encontrá-LO,
pois ELE em contínua expansão
vai reflorindo a sua própria
permanência,
e no meu esforço consecutivo
eu percebo a SUA PRESENÇA.

sábado, 21 de janeiro de 2012

EIN SOFT

Adentro pelas salas do casarão
da poesia, para ser mais simples.
Para não ter a necessidade de dar
o outro lado da face, pura hipocrisia.
Possso virar-me ao avesso à vontade.
Em vez de assumir-me como humanidade,
eu sou apenas o passar dos dias.
Em vez de misturar-me ou unir-me ao universo,
visto a forma imperceptivel dos números.
No lugar dos discursos megalomaníacos,
revivo a unidade das humildes sílabas.
Ante o esplendor dos mistérios, não
avanço além dos signos.
Diante do espetáculo divino, me contento
em brincar com os mitos.
Pois, em verdade, em verdade vos digo,
que os dias passam e não passam,
enquanto as coisas transpassam a si mesmas.
Os números fingem ir ao infinito e não
há mentes que os captam.
As sílabas se contraem quando se expoem,
mas se diluem sem ser notadas.
Os signos reluzem enquanto se escondem
sob seus sóis.
Os mitos perduram sem ranger seus ossos.
Tenho consciêcia que os dias não contam
seus dias;
os números nunca ultrapassam os onze e
retornam ao nada, para ganhar fôlego em
sua expansão;
as sílabas se juntam sem egoísmo para
compor a sinfonia da linguagem;
os signos não se escondem em lugar algum
e não caem na ilusão do espaço e do tempo;
os mitos tecem os seus berços com as fibras
das essências originais.
Por isto, todos eles são os únicos que permanecem!
É por isto também que habito o casarão da poesia!

sábado, 7 de janeiro de 2012

SHABAT SHALOM! SHEMA YISRAEL: BARUCH ATTA ADONAI, ADONAI ELOHÊINU, ADONAI ECHAD!

Buscamos sempre nossas
partes esparzidas,
mesmo que percorramos
várias vidas,
havemos de nos encontrar
além das entrelinhas,
no final de cada estação,
sobre os dormentes dos trilhos,
no dorso das estradas erguidas,
atrás das janelas fechadas
hermeticamente banidas,
das portas seguramente trancadas
com travas enrijecidas,
mesmo que tenhamos que andar,
com nossas almas às escondidas,
nos cantos, canções, versos
dos encatados poetas,
pois somos herdeiros dos salmistas,
cantaremos sobre as muralhas caidas,
haveremos sempre de nos encontrar,
enquanto os encontros sejam erguidos
por tradições e histórias seletas,
nossos momentos estão escritos,
nas estrelas mais distantes do infinito.
Shabat Shalom!