MAÇONARIA E RITOS
SUMÁRIO
1 - A Influencia dos Ritos em Lojas ..............................XX
2 – Os Ritos Praticados no Brasil ..................................XX
3 - A Eternidade dos Ritos e sua Flexibilidade ............XX
4 - A Maçonaria e a Revolução do Pensamento ..........XX
5 - A Maçonaria e o Iluminismo ...................................XX
6 – Maçonaria a Partir do Século XVIII .....................XX
7 - A Maçonaria Continua Viva ...................................XX
8 - Conclusão
1 - A Influência dos Ritos em Loja
Uma discussão freqüente no meio maçônico é se nosso rito, em particular o Escocês Antigo e Aceito, continua íntegro ou está contaminado, por isso decidimos aprofundar um pouco esse tema, começando por definir o que é um rito:
Conceituamos rito como sendo um cerimonial próprio de um culto ou de uma sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia e, por extensão, designa culto, religião ou seita.
Um Rito deve ter conteúdo que consagre algumas exigências bem conhecidas: o símbolo do Grande Arquiteto do Universo, o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso sobre o altar dos juramentos, sinais, toques, palavras e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus. Não há nenhum órgão internacional para reconhecer ritos. Acima do 3º Grau, cada Rito estabelece sua própria doutrina, hierarquia e cerimonial.
Maçonicamente é a prática de se conferir a Luz Maçônica a um profano, através de um cerimonial próprio. Em seiscentos anos de Maçonaria documentada, uma imensidade de ritos surgiu. Mas, de 1356 a 1740, existiu um rito apenas, ou melhor, um sistema de cerimônias e práticas, ainda sem o título de Rito, que normatizava as reuniões maçônicas.
Cada rito possui detalhes peculiares. A linha maçônica doutrinária, em cada Rito, deve ser contínua, dos graus simbólicos aos filosóficos. Cada Rito é uma Universidade doutrinária.
2 - Os Ritos praticados no Brasil
Existem muitos Ritos Maçônicos praticados em todo o mundo. No Brasil, especificamente, são praticados seis, alguns deles reconhecidos e praticados internacionalmente e outros com valor apenas regional. São eles, o Rito Schröeder ou Alemão, o Rito Moderno ou Francês, o Rito de Emulação ou York (o mais praticado no mundo), o Rito Adonhiramita, o Rito Brasileiro e o Rito Escocês Antigo e Aceito (o mais praticado no Brasil) do qual comentaremos, pois se trata do praticado em nossa Loja.
O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, Começou a nascer na França, quando Henriqueta de França, viúva de Carlos I, decapitado em 1649, por ordem de Cromwell, aceitou do Rei Luís XIV asilo em Saint-Germain-en-Laye, para lá se retirando com seus regimentos escoceses e irlandeses e os demais membros da nobreza, principalmente escocesa, que passaram a trabalhar pela restauração do trono, sob a cobertura das Lojas, das quais eram membros honorários, o que evitava que os espiões de Cromwell pudessem tomar conhecimento da conspiração. Consta que Carlos II, ao se preparar para recuperar o trono, criou um regimento chamado de Guardas Irlandeses, em 1661. Esse regimento possuía uma Loja, cuja constituição dataria de 25 de março de 1688 e que foi a única Loja do século XVII cujos vestígios ainda existem, embora os stuartistas católicos devam ter criado outras Lojas. O termo "escocês", já a partir daquela época, não designava mais uma nacionalidade, mas o partido dos seguidores dos Stuarts, escoceses em sua maioria. Assim, após a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, existiam na França dois ramos maçônicos: a Maçonaria escocesa e stuartista, ainda com Lojas livres, e a inglesa com Lojas ligadas à Grande Loja. A Maçonaria escocesa, mais pujante, resolveu, em 1735, escolher um Grão-Mestre, adotando o regime obediencial, o que levaria à fundação da Grande Loja da França (Grande Oriente de 1772), embora esta designação só apareça em 1765. O escocesismo, na realidade, só se concretizou com a introdução daquilo que seria a sua característica máxima, os Altos Graus, através de uma entidade denominada "Conselhos dos Imperadores do Oriente e do Ocidente". Este Conselho criou o Rito de Héredom, com 25 graus, o qual, incorporado ao escocesismo, deu origem a uma escala de 33 graus, concretizada do primeiro Supremo Conselho do Rito em todo mundo. O REAA, por ter sido um rito deísta, não foi unanimemente aceito nos países onde predominavam as Igrejas Evangélicas e vicejou mais nos países latinos onde predomina o Catolicismo. É necessário explicar que atualmente o caráter deísta do Rito Escocês Antigo e Aceito misturou-se ao teísmo, sendo que este acabou sendo predominante. O REAA tem o mesmo forte caráter teísta do Rito de York.
3 - A Eternidade dos Ritos e sua Flexibilidade
A Maçonaria é uma instituição que objetiva a felicidade humana e o aprimoramento moral e ético, dentro das leis do amor, da solidariedade, da lealdade, da fraternidade, da igualdade e da liberdade, que engloba uma visão holística no universo das fronteiras dos credos, das nações e povos.
Este procedimento que vem através dos séculos, se perpetua neste terceiro milênio, se amplia e torna-se protótipo de sociedade humana, num mundo globalizado, ensinando a aprender saber, aprender fazer, aprender relacionar-se e aprender a ser.
Assim, ela se suste nos Landmarks e nos Ritos, porque eles são eternos, não pelo fato de serem dogmáticos, mas acima de tudo, porque por inspiração divina, vieram à luz com as leis perpétuas da flexibilidade, da maleabilidade e da arte dialógica. Esta também é uma forma de arte real, porque funciona na engrenagem da dialética, na tríade da tese, antítese e síntese e assim subsequentemente até atingir ao mais alto grau de perfeição. É como o dom do ouro, que pelo fato de ser dúctil, maleável e flexível, nos permite lapidar jóias e ornamentos do mais excelso valor.
4 - A Maçonaria e a Revolução do Pensamento
Desta forma, a partir do momento em que se ocorrem grandes revoluções no pensamento humano, torna-se mister que se reinterpretem os novos dados significativos, uma vez que a própria física quântica transcende a física de Newton, sem maculá-la e nem abandona o fundador da ciência moderna, Galileu Galilei, do séc. XVII, com sua assertiva de que a leitura do universo se faz pelos caracteres geométricos, e inclusive, avançando mais, no interior deste raciocínio filosófico, o homem não perde sua essência, pela decorrência do avanço da genética, ou da tecnologia de ponta, mudando costumes e ampliando ramos de comunicação.
Imaginemos num passeio histórico, que a Maçonaria avança pelos séculos desde os legendários Cavalheiros Templários, sem perder o conteúdo de sua magia, sem derramar a taça do Santo Graal e sem perder a arte cavalheiresca de seus antigos costumes. Recordemos por exemplo, a época do próprio cientista Galileu citado acima, inaugurando um novo tempo para a humanidade. Com certeza, isto só foi possível com a colaboração dos irmãos invisíveis daquela época, que já trabalhavam em silêncio para abrir novos caminhos e possibilidades para o ser humano.
Vejamos que a tarefa de Galileu não era simples e nem fácil. Ele teve que derrubar o antigo paradigma da ciência, que se baseava nas idéias de Aristóteles, sustentadas pelos dogmas da Igreja Católica de sua época. Era necessário que ele provasse que a Terra era realmente arredondada e que ele colocasse abaixo todo o cosmo aristotélico, de que a Terra era o centro do universo, imóvel e que o mundo supra lunar era perfeito e intocável, enquanto o mundo sublunar era imperfeito. Galileu prova que a Terra é esférica, se move no espaço, não é o centro do universo, que aqui também há leis fundamentais, como a lei do pêndulo, da queda dos corpos no espaço, do início da questão gravitacional, inclusive provando com seu tosco telescópio que a lua, tinha montanhas e vales, com sombras e picos iluminados pelo sol. Todo este trabalho foi possível, devido às grandes idéias dos pré-modernos, anteriores a Descartes, contemporâneos e antes também, de Copérnico, de Kepler que provou que as órbitas celestes são elípticas.
Todo este trabalho foi possibilitado pelos nossos irmãos do passado, que nem sequer ainda eram chamados de maçons, como o caso de Giordano Bruno, queimado vivo por suas idéias a respeito de um universo infinito, gravitacional e cheio de planetas.
Chamamos a este tempo, de um grande período de transformação da humanidade, sendo também que colocamos as Grandes Navegações do século XV e do século XVI, na mesma caravela de mudanças, encorajada também por nossos irmãos do passado, pois as cruzes de malta que estampavam as caravelas são emblemas antigos de um período de nossa sociedade, que continua viva até hoje, porém da forma em que estamos agora, pois sabemos que os Cavaleiros de Cristo que carregavam a cruz de malta, nada mais eram, que os mesmos cavaleiros templários esmagados séculos antes, mas que agora encontraram em outra alegoria, uma nova forma de sobreviver e lutar por seus nobres ideais.
Época em que se debatem idéias antagônicas, como o teocentrismo em face do recente antropocentrismo, porém este último, baseado em novos conceitos, nas mãos dos cavaleiros reais, não jogou de lado a idéia de que o universo é posterior ao Ser, este Ser, mais do que necessário, mas provedor de toda a sabedoria universal, que é o Grande Arquiteto do Universo.
Relembramos que na segunda metade do século XVII, o que impera mesmo é o iluminismo rosacruz, que é o embrião da maçonaria especulativa, portanto, com inspiração hermética e rosacruz, sem perder o rito, cuja verdadeira origem é anterior à civilização latina, pois é sânscrita, vindo de rita, que significa ordem.
Mesmo que naquela época, não fosse chamada de Maçonaria e não tivesse ainda aberta nenhuma loja na Inglaterra ou França, ela sobrevivia pelos atos dos pensadores livres e por uma necessidade também daquela época, de possuir sinais de identificação, toques, palavras secretas. Quantas vezes nós já ouvimos dizer, que Leonardo Da Vinci escrevia textos com um código secreto e que também Galileu o fazia. Todos sabemos que os rosacruzes escreviam em um alfabeto próprio. Portanto a Sagrada Ordem não se retrai em seus conceitos, mas os expande como faróis, em um mundo cada vez mais transformador.
A Instituição maçônica não abandonou seu foco de trabalho, pois se inaugurássemos uma nova ciência, uma espécie de hermenêutica dos ritos, compreenderíamos cada leitura ou releitura inclusa em suas devidas épocas. Sabemos que o desejo da verdade é um sentimento que nos aflora desde a infância. Desde pequenos perguntamos aos nossos pais, porque isto é assim, porque aquilo é daquela forma e somos pesquisadores das coisas que nos rodeiam. Buscamos a compreensão de que tudo é realmente como as pessoas nos informam e somos muito sensíveis aos enganos e mentiras. Está dentro da alma humana a fagulha divina da percepção do mundo. Quando adultos, desenvolvemos ainda mais esta capacidade de buscar a verdade e a resposta às nossas inquietações. Se perguntarmos a todos os maçons aqui presentes, se eles têm alguma dúvida de seu caminho, de suas iniciações, de seu trabalho social, de suas expectativas diante de suas reuniões templárias, todos com certeza afirmarão positivamente que estão muito satisfeitos e com plena consciência de que têm galgado uma evolução espiritual no caminho maçônico. -Quer prova mais evidente do que esta, que nós não abandonamos a essência primordial? Por que esta resposta não vem de seus lábios e sim do mais profundo de vossos corações? Por que nossos atos são sinais de nossas identificações?
Qual é no fundo o sentido principal da busca da verdade? O sentido reside prioritariamente a entendermos com a razão e o coração, o que é o mundo que nos rodeia e quem realmente somos nós, de onde viemos como seres humanos, qual nossa verdadeira missão aqui na Terra e para onde iremos?
Enfim, queremos ser felizes, não termos dúvidas, trabalharmos para o bem e encontrar um sentido para a nossa existência. Nossos ritos nos dão tudo isto e basta vivê-los para compreendê-los. Eles não perderam a noção da senha secreta dos mistérios mais intrínsecos do universo, embora se adaptem em sua natureza externa, eles se coadunam e se correlacionam com as necessidades mais importantes do ser humano.
A nossa sociedade profana não traz condições com suas instituições para complementar tal obra no coração humano. Por mais que a escola se redefine e se reoriente, ela está aquém deste trabalho. Mesmo as instituições religiosas não conseguem atende-lo plenamente, por mais louváveis que sejam,porque elas têm seus dogmas próprios, o que é justo e respeitável. Mas a maçonaria possui as chaves secretas da leitura dos símbolos e enigmas pendurada em um chaveiro universal. O chaveiro pode até mudar em alguns aspectos de seu design, mas as chaves não mudam seus sulcos e estão sempre prontas para abrir os portais dos mistérios.
A nossa consciência é uma verdade sem dúvida e tudo aquilo que nossa consciência aceita como provável após o jogo lúdico da experiência seqüencial, não deixa fresta para incertezas.
A pergunta inicial desta tese merece um aplauso de toda a platéia. Muitas vezes as perguntas são mais importantes que as respostas. Mas uma pergunta de tal magnitude merece uma resposta à sua altura e este é o exercício que estamos fazendo com profunda reflexão nesta tese.
Os ritos não se desviaram dos seus caminhos iniciais, porque eles ainda ultrapassam as barreiras do dogmatismo. O dogmatismo é uma atitude que nos acompanha desde crianças. É aquela crença de que o mundo existe como tal o conhecemos. Se não fosse a dúvida ou estranhamento de muitos pensadores, estaríamos ainda no período paleolítico. Foi o fato de não aceitarmos todas as opiniões e crenças comuns da sociedade e inclusive de nossas próprias idéias, que nos fez chegar à era robótica em que estamos. - Que seria da humanidade se acreditasse apenas no fenômeno? Imaginem o homem que somente crê no que vê. Como é pobre a vida deste homem. É necessário redobrarmos ao que está por detrás do fenômeno. Eu vejo o mundo, mas o que é que está por detrás de cada coisa que vejo? Só quem se debruça sobre a leitura dos símbolos, é que consegue atingir tal plenitude. E não podemos negar que todos estes símbolos ainda estão presentes em todos os templos maçônicos justos, perfeitos e regulares.
Além do mais, uma forma de ser dogmática, ela é ultra conservadora e tem medo de mudanças. Olhem, a Maçonaria é pesquisadora, expansiva e não combate as mudanças que trazem benefícios à humanidade. Todas as nossas lojas são assim e aprendemos assim em nossos ritos. Nós queremos fraternidade, liberdade e igualdade, porque evoluímos sem perder a consciência original.
A idéia que nossa sociedade ocidental tem sobre verdade, foi produzida por três culturas entrelaçadas em nós e presentes em todos os nossos templos maçônicos. Vamos verificar cada uma delas. Em grego, verdade é aletheia, que significa aquilo que não está oculto, que não se encontra escondido, que não se dissimula. Resta-nos então tudo o que aparece realmente e se compreende com facilidade pelo nosso espírito. O falso, seria o pseudos, o que está encoberto, escondido, o que parece que é, mas na verdade não é. Quem conhece algo que experimentou realmente como verdadeiro, não tem dúvida alguma.
Em latim, verdade é veritas, e tem muita relação com o que se relata, se diz, muito próprio dos réus perante os tribunais. Depende da memória, dos valores morais e éticos dos relatos.
Em hebraico, verdade é emunah e significa confiança. Tem a ver com a promessa de que aquilo que nos disseram é realmente como nos prometeram. É buscar um Deus verdadeiro, onde se deposita esperança e confiança. Portanto, se em grego verdade corresponde às coisas como são, em latim, veritas corresponde aos fatos como realmente foram e em hebraico, emunah, de que temos confiança e esperança naquilo que fazemos.
Os nossos ritos maçônicos continuam a se correlacionar com as essências primordiais do universo, sem perder os fatos delas mesmas e sem menosprezar a confiança e esperança no que estamos realizando. Então, eles são perfeitamente verdadeiros.
5 - A Maçonaria e o Iluminismo
Passam-se os séculos e uma grande reviravolta acontece no século XVIII, com a chegada do Iluminismo. Este movimento jamais teria tido sucesso algum, se não tivesse existido a Maçonaria. Só que neste momento, foi possível a abertura de lojas em diversas cidades européias, porque justamente era uma nova etapa da Humanidade. Surgem nomes como Jean Jacques Rousseau, Voltaire, Dalembert, Diderot, Montesquieu entre outros, que com certeza se alguns não foram maçons, todos foram influenciados pelo pensamento maçônico.
O lema da Revolução Francesa era Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que são os mesmos da Maçonaria. Alguns despreparados e incautos do século XVIII, poderiam até dizer que os pensadores livres estavam se desvirtuando de seus princípios e que estavam contaminados. Só por não perceber a realidade sócio-política daquela época, onde a necessidade prioritária era a derrubada dos antigos regimes europeus, da libertação das Américas, do fim da escravidão e do assentamento de repúblicas democráticas sobre a face da Terra, que ficou realmente a cabo dos maçons e não dos críticos desinformados.
Nesta antiga maçonaria, relembremos do irmão Francisco Miranda, venezuelano, iniciado por George Washington, que proclamou com Thomas Jefferson e centenas de outros maçons, a independência dos EUA.
Nosso irmão Miranda, continuando os ideais de seu padrinho maçom, iniciou centenas de maçons latino-americanos, providenciando assim a libertação total de toda a América Espanhola. Só para ilustração desta tese, cito nomes como O’Higgins, libertador do Chile, assim como de Simon Bolívar e San Martin, os grandes libertadores, que saíram da grandeza de seu malhete num juramento e numa consagração.
No Brasil, José Bonifácio, iniciado na Europa, D.Pedro I, iniciado no Rio inauguram uma nova época com centenas de outros maçons, pela Independência do Brasil. Este processo culmina no final do século XIX, com a libertação dos escravos e a proclamação da república.
Em todo este período, a Maçonaria se adequou à época, sem desrespeitar ou fugir de seus princípios básicos e sem afastar de seus divinos mistérios e de sua linguagem hermética.
A Maçonaria não é estática, pelo contrário, ela é dinâmica e não se subtrai a um dogma, apenas coloca ritos e símbolos para que o homem os apreenda e perceba. Sendo que cada ser humano é fruto de uma cultura, de um espaço geográfico e de um tempo histórico, cabe a cada um, ao seu modo, extrair destes símbolos e alegorias suas interpretações e seus significados.
6 – Maçonaria a Partir do Século XVIII
Desde quando houve a grande Revolução Industrial no século XVIII, onde o homem deixa um pouco do trabalho manual, para o trabalho operatório das máquinas, em que o mundo sofre pelo impacto das grandes transformações sociais que advém, da transição para uma sociedade fabril, os maçons estão presentes com suas idéias de liberdade, fraternidade e igualdade, se amoldando neste mundo, conforme a linguagem que ele necessita naquele momento.
Um século depois, no alvorecer das luzes do século XX, com as grandes transformações dando início a grandes invenções como a descoberta da luz elétrica, do nascimento da indústria automobilística, do cinema, do telégrafo, do rádio, das linhas férreas, etc., a Maçonaria está também presente, conforme este período histórico.
Observa-se que neste momento são enunciadas duas grandes teses revolucionárias, sendo uma delas a descoberta do inconsciente por Freud e a elaboração da Teoria da Relatividade, por Einstein.
Foram os maçons, os primeiros a compreenderem estas novas idéias científicas, visto que seus estudos de símbolos, mistérios e suas práticas rituais, lhes abriam canais mais férteis para perceberem idéias que já eram correlatas com estudos cabalísticos dentro das lojas maçônicas.
Nestes momentos, a Maçonaria avança e pode até parecer para muitos que não estão atentos, que ela esteja se desviando ou se contaminando, por não compreenderem que no templo maçônico, encontram-se germes atômicos de muitas descobertas que ainda serão colocadas em prática pela humanidade.
Isto comprova que a Maçonaria não transmutou a idéia dos arquétipos fundamentais do Cosmo, como por exemplo, o estudo numérico, o conhecimento da cabala, as figuras geométricas como o triângulo, o círculo, o quadrado, o retângulo, que correspondem a princípios ou formas simbólicas correspondentes dos modelos cósmicos.
Tão prova que ela hoje não segue a erguer edifícios que representassem o modelo material do universo, mas transmuta ao entalhar na pedra bruta do ego humano a formosura da pedra polida do homem primordial, sem abandonar os códigos fundamentais dos antigos construtores e mantendo em guarda as práticas de identidade dos sagrados mistérios.
7 - A Maçonaria Continua Viva
Quando o (profano\neófito)iniciado bate à porta do Templo, sem seus metais, inclusa também está sua nudez de suas crenças restritas, de suas opiniões políticas, de suas teses filosóficas, para que no âmago do templo, encontre na luz de sua claridade, o veículo da universalidade, que não o deixe contaminar com o procedimento humano egoísta, unilateral e pessoal, pois está alicerçada em pleno século XXI, na coluna dorsal flexível dos Landmarks e dos Ritos.
A Maçonaria não se contaminou e continua viva, basta observarmos os próprios graus de aprendiz, companheiro e mestre e suas correlações com antigas práticas iniciáticas correspondentes ao corpo, alma e espírito universal, sendo a resultante da formação do cosmo e do espírito universal, que é o mesmo caminho evolutivo da árvore cabalística, desde o reino de Malcuth em direção a Kether e o que importa é a essência contida neste rito e não a sua pura singularidade.
Portanto, a Maçonaria não perde a profundidade da realização da antropogênesis num rito cosmogônico, para dar origem a uma nova criatura, a um novo ser, não importando a variação do rito em si, desde que não se perca o sentido espiritual da idéia maçônica.
A Maçonaria continua a renovar o homem em suas lojas, pois ele é o objeto central da criação, e que através dos ritos poderá compreender sua essência e seu destino, através de seus caminhos, suas marchas, seus toques, sinais, graus, alegorias, palavras de passes, viagens, etc. alcançar níveis mais elevados que os da vibração material, sendo esta a única realidade que não poderá ser perdida e que está acima dos mecanismos e das práticas ritualísticas.
O universo é muito imenso para compreendê-lo de uma vez só. Não é esta a intenção maçônica e nem trabalha com este fim, porque ela não se desviou de seus princípios. Tudo acontece passo a passo, grau a grau, aprendendo-se através de símbolos visuais, sonoros e gestuais a conhecer-se a si mesmo, que é a maneira mais correta de conhecer o universo. Com esta atitude, recorremos a um conhecimento socrático, do grande mestre de Atenas, do século VI a.C., sem perder sua fidelidade, pelo fato de se adaptar à época em que vivemos, pois conservamos o conteúdo espiritual.
Não é idéia da Maçonaria, transformar-se num museu de relíquias alienadas das necessidades humanas, portanto ela é ativa e atual, sem abandonar os códigos simbólicos e a tradição hermética.
Todos sabemos que a concepção de mundo de nossa sociedade ocidental, se origina em muito dos antigos gregos, principalmente Platão e Pitágoras e que estes se iniciaram nos mistérios de Thot – Hermes (mistérios do conhecimento) do Antigo Egito, que ainda era contemporâneo em seu tempo. O Antigo Egito também foi o berço de Moisés e da sociedade judaica, portanto nossa cultura é greco-judaico-cristã, cujo pano de fundo está no Antigo Egito, que é a mesma raiz da Maçonaria como um todo, que embora a variedade e releitura dos ritos, não perdeu suas essências originais.
Hoje, com o conhecimento que temos, sabemos que já não há apenas um universo, mas que existem universos múltiplos, como por exemplo, o que já se tornou habitual o discurso sobre planos paralelos, o que mostra um momento de grandes mudanças no pensamento científico. Assim, a Maçonaria não se deixa ultrapassar por seu tempo e nem se atropelar pela evolução necessária da humanidade, por isto, se adequa e se sobressai, sem deixar de ser a lendária depositária dos mistérios antigos.
8 – Conclusão
A Instituição maçônica não abandonou seu foco de trabalho, pois se inaugurássemos uma nova ciência, uma espécie de hermenêutica dos ritos, compreenderíamos cada leitura ou releitura inclusas em suas devidas épocas. Sabemos que o desejo da verdade é um sentimento que nos aflora desde a infância. Desde pequenos perguntamos aos nossos pais, porque isto é assim, porque aquilo é daquela forma e somos pesquisadores das coisas que nos rodeiam. Buscamos a compreensão de que tudo é realmente como as pessoas nos informam e somos muito sensíveis aos enganos e mentiras. Está dentro da alma humana a fagulha divina da percepção do mundo. Quando adultos, desenvolvemos ainda mais esta capacidade de buscar a verdade e a resposta às nossas inquietações. Se perguntarmos a todos os maçons aqui presentes, se eles têm alguma dúvida de seu caminho, de suas iniciações, de seu trabalho social, de suas expectativas diante de suas reuniões templárias, todos com certeza afirmarão positivamente que estão muito satisfeitos e com plena consciência de que têm galgado uma evolução espiritual no caminho maçônico. -Quer prova mais evidente do que esta, que nós não abandonamos a essência primordial? Por que esta resposta não vem de seus lábios e sim do mais profundo de vossos corações? Por que nossos atos são sinais de nossas identificações?
Qual é no fundo o sentido principal da busca da verdade? O sentido reside prioritariamente a entendermos com a razão e o coração, o que é o mundo que nos rodeia e quem realmente somos nós, de onde viemos como seres humanos, qual nossa verdadeira missão aqui na Terra e para onde iremos?
Enfim, queremos ser felizes, não termos dúvidas, trabalharmos para o bem e encontrar um sentido para a nossa existência. Nossos ritos nos dão tudo isto e basta vivê-los para compreendê-los. Eles não perderam a noção da senha secreta dos mistérios mais intrínsecos do universo, embora se adaptem em sua natureza externa, eles se coadunam e se correlacionam com as necessidades mais importantes do ser humano.
A nossa sociedade profana não traz condições com suas instituições para complementar tal obra no coração humano. Por mais que a escola se redefine e se reoriente, ela está aquém deste trabalho. Mesmo as instituições religiosas não conseguem atende-lo plenamente, por mais louváveis que sejam,porque elas têm seus dogmas próprios, o que é justo e respeitável. Mas a maçonaria possui as chaves secretas da leitura dos símbolos e enigmas pendurada em um chaveiro universal. O chaveiro pode até mudar em alguns aspectos de seu design, mas as chaves não mudam seus sulcos e estão sempre prontas para abrir os portais dos mistérios.
A nossa consciência é uma verdade sem dúvida e tudo aquilo que nossa consciência aceita como provável após o jogo lúdico da experiência seqüencial, não deixa fresta para incertezas.
A pergunta inicial desta tese merece um aplauso de toda a platéia. Muitas vezes as perguntas são mais importantes que as respostas. Mas uma pergunta de tal magnitude merece uma resposta à sua altura e este é o exercício que estamos fazendo com profunda reflexão nesta tese.
Os ritos não se desviaram dos seus caminhos iniciais, porque eles ainda ultrapassam as barreiras do dogmatismo. O dogmatismo é uma atitude que nos acompanha desde crianças. É aquela crença de que o mundo existe como tal o conhecemos. Se não fosse a dúvida ou estranhamento de muitos pensadores, estaríamos ainda no período paleolítico. Foi o fato de não aceitarmos todas as opiniões e crenças comuns da sociedade e inclusive de nossas próprias idéias, que nos fez chegar à era robótica em que estamos. - Que seria da humanidade se acreditasse apenas no fenômeno? Imaginem o homem que somente crê no que vê. Como é pobre a vida deste homem. É necessário redobrarmos ao que está por detrás do fenômeno. Eu vejo o mundo, mas o que é que está por detrás de cada coisa que vejo? Só quem se debruça sobre a leitura dos símbolos, é que consegue atingir tal plenitude. E não podemos negar que todos estes símbolos ainda estão presentes em todos os templos maçônicos justos, perfeitos e regulares.
Além do mais, uma forma de ser dogmática, ela é ultra conservadora e tem medo de mudanças. Olhem, a Maçonaria é pesquisadora, expansiva e não combate as mudanças que trazem benefícios à humanidade. Todas as nossa lojas são assim e aprendemos assim em nossos ritos. Nós queremos fraternidade, liberdade e igualdade, porque evoluímos sem perder a consciência original.
A idéia que nossa sociedade ocidental tem sobre verdade, foi produzida por três culturas entrelaçadas em nós e presentes em todos os nossos templos maçônicos. Vamos verificar cada uma delas. Em grego, verdade é aletheia, que significa aquilo que não está oculto, que não se encontra escondido, que não se dissimula. Resta-nos então tudo o que aparece realmente e se compreende com facilidade pelo nosso espírito. O falso, seria o pseudos, o que está encoberto, escondido, o que parece que é, mas na verdade não é. Quem conhece algo que experimentou realmente como verdadeiro, não tem dúvida alguma.
Em latim, verdade é veritas, e tem muita relação com o que se relata, se diz, muito próprio dos réus perante os tribunais. Depende da memória, dos valores morais e éticos dos relatos.
Em hebraico, verdade é emunah e significa confiança. Tem a ver com a promessa de que aquilo que nos disseram é realmente como nos prometeram. É buscar um Deus verdadeiro, onde se deposita esperança e confiança. Portanto, se em grego verdade corresponde às coisas como são, em latim, veritas corresponde aos fatos como realmente foram e em hebraico, emunah, de que temos confiança e esperança naquilo que fazemos.
Os nossos ritos maçônicos continuam a se correlacionar com as essências primordiais do universo, sem perder os fatos delas mesmas e sem menosprezar a confiança e esperança no que estamos realizando. Então, eles são perfeitamente verdadeiros.
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