domingo, 24 de outubro de 2010

A PRIMAZIA DA RAZÃO SOBRE A RAZÃO PURA TEÓRICA - KANT X - ÚLTIMO ARTIGO

Com este último artigo, fechamos o trabalho sobre Kant e você tem em suas mãos um compêndio que lhe dá condições de entender o pensamento desta grande mente filosófica da humanidade. Lembro que é um resumo homeopático de uma obra vastíssima e de dezenas de anos do trabalho intelectual de Kant, mas que leva à compreensão de um pensador que não é fácil de ser compreendido pela simples leitura de seus livros.
Justapondo a lei moral de um lado e a vontade pura do outro lado, estamos diante da autonomia ou heteronomia da vontade. Os princípios da moralidade que se ajustam aos conteúdos empíricos da ação, embasados nas éticas, mandamentos, castigos, penas, recompensas, etc. são heterônimos. A lei puramente formal que não se origina em conteúdos empíricos, mas que tem seu privilégio no lugar da consciência é autônoma. Este é o lugar psicológico, o reino da moral, o porquê da conduta moral, a voz da consciência. Kant: "age de tal maneira que o motivo, o princípio que te leva a agir, possas tu querer que seja uma lei universal".
Das condições da ciência extraimos as condições do conhecimento e das condições da lei moral as nossas condições de agir. As condições do conhecimento dependem do espaço/tempo/categorias, etc. em prol dos fenômenos internos, mas as condições do agir não dependem exclusivamente disto. Aí está a grande genialidade kantiana. É o mundo das realidades supra sensíveis, inteligíveis, em outra dimensão da consciência, num lugar incognoscível, tendo nosso eu duas formas: um eu conhecendo a natureza e um eu supra sensivel, na dimensão da consciência moral.
Neste momento penso uma coisa: não é em vão que criaram a Bioética! Dá para entender cientistas fazendo adubos químicos, armas nucleares, cientistas submetidos à indústria farmacêutica que te repara um fígado ao mesmo tempo que te arruina os rins, etc.? Este é o postulado da liberdade quando o homem não se rende ao mundo sensivel e reina no mundo supra sensivel, que é o lugar psicológico da consciência moral.
Quando você escapa do mundo das formas, do sensivel, do tempo, do espaço, das categorias, das causas e efeitos, das idéias do princípio e fim, do corpóreo versus anímico, você entra no reino da imortalidade do mundo supra sensivel da consciência psicológica moral. Isto é o que Kant chama de santidade. Não deixa de ser uma crença inabalavel na imortalidade da alma.
Com a liberdade moral, com a imortalidade, extinguindo o abismo que há entre o ideal e a realidade compreendemos a Deus. O mundo fenomênico de causas e efeitos que se afunda na tragédia humana da maldade e da injustiça se equipara ao distanciamento de Deus. A supra sintese que pretende reunir em nós o ideal ao real é a idéia de Deus. A razão prática nos conduz às verdades da metafísica. A razão teórica está a serviço da razão prática, sendo um trâmite entre o mundo fenomênico e o lugar psicológico da moral, uma passagem do mundo fenomênico ao mundo essencial supra sensivel das almas, do universo e de Deus.

KANT / IX - IMPERATIVOS HIPOTÉTICOS E IMPERATIVOS CATEGÓRICOS.

Se falei em boa vontade, então existe a má vontade? Em que consistem estas vontades? Todo ato voluntário se apresenta à razão em forma de imperativo. Isto tem que ser feito, não é certo fazer aquilo, cuidado com esta ação, todas estas reflexões surgem na consciência em forma de imperativos: hipotéticos ou absolutos. A lógica formal do imperativo hipotético o submete a uma condição:"se queres aprender esta matéria, estude muito." Ele não é absoluto, não é incondicional, porque já diz "se queres", assim como outros imperativos hipotéticos.
Mas examinemos agora os mandamentos morais: "honra teu pai e tua mãe", "ame tua terra natal", "não matarás", "não furtarás", etc. Eles são categóricos, pois a imperatividade não requer nenhuma condição. Eles nascem dentro da própria vontade humana. Pertencem ao campo da moralidade e não da legalidade. Nem tudo que está dentro da lei, ou da legalidade, também está dentro da moralidade. O que você faz de acordo com a lei é porque você se ajusta a ela. Vou aqui dar um exemplo muito prático. Em 1885 era legal(dentro da lei), aqui no Brasil você possuir escravos. Mas não era moral. A partir de 13 de maio de 1888, com a Lei da Alforria(Lei Áurea) era ilegal você ter escravos. E nunca será moral ter escravos. Imagine você, quantas leis temos por aí que são legais e não são morais. Quer saber de uma? A Lei do Salário Mínimo! Você sabe quanto ganha um vereador, um deputado, um senador que não protesta contra esta lei? Mas isto é outra história, não é? Então vamos continuar com Kant, conforme propomos.
Um ato que você faz porque quer ter recompensa ou evita um castigo, não está assentado na lei moral. É um imperativo hipotético, não é um imperativo categórico. O imperativo categórico ouve a voz da consciência. A sua vontade só é pura, moral e terá validez, se ouvir esta voz e refletí-la em suas ações.
Em fórmula lógica diremos: toda ação tem uma matéria (aquilo que você faz ou omite) e uma forma (o porquê se faz ou porquê se omite). Uma ação será pura e moral não só pela grandeza do conteúdo, mas pela voz da consciência em torno do dever.
A famosa fórmula kantiana do imperativo categórico ou da lei moral/ universal é esta: "age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir, seja uma lei universal".
Vou dar um exemplo muito simples, embora existem milhares de outros: você tem um amigo nas últimas no hospital. Hoje é domingo e joga flamengo e vasco. Você é flamenguista doente. Seu amigo quer se despedir de você. Ele é doente terminal. Ou você faz sua vontade humana de assistir ao jogo, ou você vai pela lei moral/universal. Uma coisa é ser hipotético, outra coisa é ser categórico.
Categoricamente falando eu sei que você iria. E não iria contra a sua vontade, pois seria hipotético!

sábado, 23 de outubro de 2010

RAZÃO PRÁTICA OU CONSCIÊNCIA MORAL (nous practikós) DE KANT. kant VIII

Se Kant vê a metafísica impossivel como conhecimento científico, teorético, especulativo, não quer dizer que não haja outra via para chegar a estes conhecimentos metafísicos. Se estes caminhos não seriam os do conhecimento teorético-científico, quais seriam então? Se nós pensarmos que o imenso campo de atividades humanas não é apenas o campo do conhecimento, já daremos abertura para isto. Nós estudamos, corremos, brincamos, construimos, instituimos sistemas políticos, religiosos, etc. somos múltiplos em nossas ações. Nós temos uma consciência moral que tem alicerces tão fortes como os do conhecimento. Temos juizos morais tão válidos como os juizos lógicos do conhecimento. Para Kant nós temos a razão prática que é a consciência moral uma forma de se chegar ao conhecimento da metafísica, com a razão aplicada à ação, à prática, à moral. Assim temos os qualificativos morais: bom, mau, moral, imoral, meritório, pecaminoso, etc. Estes qualificativos que aplicamos às coisas não são inerentes em si das coisas. As coisas não são boas nem más. Só o homem pode ser bom ou mau, então estes qualificativos vem do homem mesmo e são formas através das quais analisa as coisas, são estruturas internas humanas. A vontade humana é quem faz a distinção do que é bom ou mau. Continuaremos em próximos artigos.

KANT COM SUA CRÍTICA PRETENDE DESMASCARAR A METAFÍSICA DE SUA ÉPOCA - KANT VII

Se as nossas vivências ocorrem dentro do tempo e não tem como extraí-lo para considerá-las e levá-las a um ponto máximo num salto além das séries das sintetizações, como poderemos ter uma idéia da alma? Não podemos sair do trilho do tempo, nem abdicar dele em nossas vivências e não temos como chegar a uma idéia concreta de alma. O tempo junto com o espaço é a primeira condição do conhecimento. Erra a psicologia em jogar a alma fora do tempo e do espaço para conhecê-la.
A outra questão kantiana sobre a metafísica é o problema do universo que vai cair em antinomias.
Primeira antinomia: tese: o universo tem um princípio no tempo e limites no espaço: antítese: o universo é infinito no tempo e no espaço. Segunda antinomia: tese: tudo quanto existe no universo está composto de elementos simples; antítese: aquilo que existe no universo não está composto de elementos simples, mas de elementos infinitamente divisíveis; terceira antinomia: o universo deve ter tido uma causa que não seja por sua vez causada; antítese: o universo não pode ter tido uma causa que não seja por sua vez causada; quarta antinomia: tese: nem no universo nem fora dele pode haver um ser necessário; antítese: no universo ou fora dele há de haver um ser necessário(ser necessário e causa dá no mesmo! as duas últimas antinomias se correlacionam!).Como se vê a razão acerca do universo em si afirma e nega. Onde está a falha, o erro da razão? É porque se está tomando o tempo e o espaço como coisas em si mesmo e não como modos de conhecer. Então procura-se discutir estas questões de início e fim. Tomando-os como coisas em si e não como formas de cognoscibilidade cometemos um grande erro, assim as duas primeiras antinomias são falsas. Nas duas últimas antinomias as teses são verdadeiras porque buscam o mundo fenomênico enquanto as antíteses buscam o noumenon(coisa em si) poderão ser verdadeiras se houver uma outra forma de conhecer em nossa consciência humana. As teses seriam válidas para as ciências físico-matemáticas e as antíteses para as ciências metafísicas, digo, se houver em nossa consciência uma via para o conhecimento que não seja a do conhecimento científico. Será que existe na razão esta possibilidade? Por Kant, creio que não!
À questão da existência de Deus, Kant agrupa tres argumentos: o antológico, o cosmológico e o físico-teológico. Kant busca Descartes e Santo Anselmo:"...eu tenho a idéia de um ser, de um ente perfeito; este ente perfeito tem de existir,porque se não existisse faltar-lhe-ia a perfeição da existência e não seria perfeito..." Kant rebate: para dizer que uma coisa existe preciso de correlacionar sujeito cognoscente com fenômeno cognoscido e como vou fazer isto se o objeto deus não se revela ou se apresenta às nossas sensibilidades? Na idéia cosmológica Kant critica o fato de deter-se em deus/causa-incausada depois de uma sucessiva série de efeitos e causas, detendo repentinamente a aplicação da categoria causa/efeito sem motivo algum. Quanto ao argumento físico-teológico, Kant critica o princípio da finalidade deste argumento, na questão de querer justificar o maravilhoso que há nas coisas, como por exemplo a possibilidade de vermos, ouvirmos, a maravilha da natureza, etc. como se tivesse uma inteligência criadora organizando estas estruturas. Para Kant, este raciocínio tenta ultrapassar os limites da experiência. Kant afirma que a metafísica quer conhecer o incognoscível. Quer ir além dos limites da experiência, o que não é possivel. Quer ir no âmago das coisas em si, cometendo erros gravíssimos com idéias a respeito da alma, do universo e de deus. Porém, Kant toma uma vereda lateral e busca na razão prática, na moral, uma saída especulativa para resolver este problema da metafísica. Veremos em próximo capítulo.

DIALÉTICA TRANSCENDENTAL DE KANT - VI

Se para Kant só há o objeto a ser conhecido nas possibilidades do sujeito e só há sujeito cognoscente representando fenômenos de objetos conhecidos, como fica o conhecimento da alma, do universo e de Deus,na visão Kantiana?
De antemão vemos uma impossibilidade de conhecê-los, pois pelo estudo da estética e da analítica transcendental, só podemos conceber objetos perantes a sujeitos cognoscentes, mesmo assim percebendo-os como fenêmenos e não como são em si mesmos.
Para Kant o conhecimento se dá diante de dois grupos: um grupo formal composto de espaço, tempo e categorias ante os elementos materiais ou de conteúdo, que é o grupo da percepção possivel ou da objetividade sujeitado ao espaço, tempo e categorias.
A metafísica pretende dar um salto sobre esta única forma de conhecimento, acima do espaço, do tempo e das categorias, apreendendo materiais em si mesmos, portanto onde está seu pecado mortal, sua falha? Por onde se iludiu a chegar em coisas em si mesmas, através da razão?
De imediato sabemos que não tem condição de irmos além da percepção sensivel para chegarmos a esta idéia. A alma, o universo e Deus ficam além da percepção sensivel dos moldes do espaço, tempo e categorias. Podemos perceber uma vivência, outra vivência, vivências passadas. Podemos perceber uma mesa, árvores, carros, planetas. Mas como vamos perceber a alma em si, o universo em si e ainda um Deus?
A razão tem poder de síntese sim, de julgamentos, de unificar relações entre objetos. A metafísica está dentro do campo onde a razão infinitamente sintetizando, na totalidade do univel, sendo estas sínteses totais o objeto da metafísica. Todas as modificações que vivemos nos leva a uma síntese suprema de alma. De todas as contraposições do eu pensante relacionado aos fenômenos representados, sintetisa-se a noção de universo. Deus passa a ser a síntese unficadora de tudo isto, da alma e do universo, condição metafísica da razão. A estas unidades supremas de alma, universo e deus, Kant chamou de idéias, sendo uma possibilidade metafísica da razão.
Portanto a razão não age adoidamente, ela dá uma salto acima da tendência infinita das relações de causa/efeito e outras relações provocadas pelas cognoscibilidade e salta sobre a tendência desta série infinita e chega a um ponto de unficidade suprema à idéia de alma, universo e deus. Mas continuaremos este papo um pouco mais em outros capítulos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

KANT: em vários artigos faço uma síntese de diversas obras e dezenas de anos de trabalho intelectual de Kant.. Eles nos ajudam a compreender o universo.

KANT V: a partir da lógica formal de Aristóteles, os juízos, as categorias e o sujeito cognoscente, o "eu cognoscente"

Aristóteles dividiu os juízos conforme quatro modos: segundo a quantidade, segundo a qualidade, segundo a relação e segundo a conformidade(quantidade/qualidade/relação/conformidade), sendo que cada um deles se divide em três tipos de juízos.
Pela quantidade os juizos podem ser: individuais, particulares e universais. Se digo que x é y, isto é "Pablo é espanhol", o juízo é individual.
Se digo alguns x são y, o juízo é particular. Se digo que todo x é y, o juízo é universal. Pablo é espanhol(individual); alguns Pablos são espanhóis(particulare); todos os Pablos são espanhóis(universal).
Pela qualidade os juízos são afirmativos, negativos e infinitos. Se digo x é y (caso do Pablo é espanhol), é de qualidade afirmativa. Quando não predica o predicado do sujeito, por ex. "a matemática não é fácil...", o juizo é de qualidade negativa. Quando predica do sujeito a negação do predicado, por ex."os carros não são meios de transporte aquático", estamos afirmando que exitem meios de transporte aquático e deixamos em aberto que existem vários tipos de carros. Este juízo é de qualidade infinita.
Pela relação os juízos podem ser: categóricos, hipotéticos e disjuntivos. Categórico: sem condição nenhuma o predicado é do sujeito "o ar é pesado". Hipotético: afirma o predicado é do sujeito sob condição "se X é Y, então é Z... Se Pablo é espanhol, então é europeu". Disjuntivo: quando alterna um ou outro predicado "X é Y ou Z... Pablo é espanhol, francês ou português".
Pela modalidade os juízos podem ser problemáticos, assertórios e apodíticos. Um juízo é problemático quando predica do sujeito um predicado possivel: X pode ser Y. No juízo assertório o predicado se afirma do sujeito: X é Y. No juízo apodítico o predicado se afirma do sujeito sendo necessariamente predicado do sujeito: X necessariamente tem que ser Y(a soma dos ângulos internos de um triângulo tem que ser dois retos, não podendo ter outro resultado de soma).
Kant foi mais além, raciocinando assim: se a cada juízo corresponde uma forma de ver a realidade, a ele adicionando categorias ficarei mais perto de perceber com mais clareza esta realidade, assim a cada juízo vou extrair de forma mais perfeita uma correspondência na realidadel, aperfeiçoando meu ato de julgar.
Assim, os juizos individuais contém a UNIDADE. Os juízos particulares contém a PLURALIDADE. Os juízos universais contém a TOTALIDADE.
Os juízos afirmativos, negativos e infinitos, contém a ESSÊNCIA, no seu sentido de ESSÊNCIA, NEGAÇÃO e LIMITAÇÃO.
Os juízos categóricos contém a categoria de SUBSTÂNCIA com propriedade desta substância. Os juízos hipotéticos contém a CAUSALIDADE de CAUSA e EFEITO. Os juízos disjuntivos contém a categoria de AÇÃO RECÍPROCA.
Os juízos problemáticos contém a categoria de POSSIBILIDADE. Os juízos assertórios a categoria de EXISTÊNCIA. Os juízos apodíticos a categoria de NECESSIDADE.
QUE SENTIDO TEM TODO ESTE TRABALHO DE KANT COLOCANDO AS CATEGORIAS SOBRE OS JUÍZOS DA LÓGICA FORMAL DE ARISTÓTELES?
Agora vem a parte mais importante da crítica da razão pura, o núcleo gerador do pensamento de Kant e que se chama:
DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL DAS CATEGORIAS.
Todos estes textos escritos em poucos artigos são uma síntese de várias obras e anos de trabalho de Kant que foram refeitas várias vezes por ele próprio.
As categorias são as condições possiveis dos juízos sintéticos a priori na Física. As condições do conhecimento são as condições da objetividade. Todo o conhecimento matemático, físico, tudo o que o homem acumulou com o seu esforço de vontade, todo o seu conjunto sistemático de teses,como as coisas se movem, as leis de causa e efeito, o aparecimento e desaparecimento das coisas, a inter-relação entre as coisas, como fiel expressão da realidade das coisas, da qual não podemos duvidar, que possuem necessidade e universalidade, são possiveis pelo homem por quais condições?
Sob as condições que existam objetos e que eles tenham um estado de ser(sejam um ou múltiplos, reúnam-se ou não em totalidades, sejam substâncias com propriedades, tenham causas e efeitos, efeitos com causas, ações e reações,...), ou seja sem estas condições do estado de ser das coisas, não haveria conhecimento.
Mas sendo que as coisas só nos enviam impressões, é óbvio que elas não tem condições de nos enviar julgamentos de unidade, totalidade, pluralidade, ação, reação, causa, efeito, etc. Se ficássemos dependendo das coisas para nos enviar categorias através de impressões, nós não teríamos segurança alguma do conhecimento científico e nem caberia nenhum esforço para produzí-lo. Só se encontra segurança daquele argumento que você alcança por você mesmo, com o seu próprio intelecto.
Então, as possibilidades das categorias que levam ao verdadeiro conhecimento das coisas, somos nós que colocamos nos fenômenos, elas são nossas mesmas, da nossa natureza mais subliminar e íntima, elas são a priori, puras em nós.
Portanto, arregace a manga de sua camisa que você tem condições plenas de descobrir muita coisa com respeito à essência da natureza(em grego physis).
Daí que vem a inversão copernicana de Kant. São as coisas que se ajustm aos nossos conceitos/intuições/categorias e não nossos conceitos que se ajustam às coisas. As categorias são conceitos puros a priori que nós não extraimos das coisas, mas impomos nelas.
O conhecimento aparece quando o homem assume-se como SUJEITO DO CONHECIMENTO. Quando o "eu" quer conhecer, torna-se SUJEITO COGNOSCENTE, imprimindo nas coisas as categorias que são conceitos puros a priori.
Quando o homem começa a perguntar "o que é isto? como funciona isto?", ele deixa de ser um "eu biológico", para ser um "eu superior", um "eu cognoscente". Neste momento o homem ergue-se por cima de todos os animais e todos os outros homens, porque assumiu uma posição de caráter científico. Cresce o "eu" e cresce o objeto, pois um se eleva sobre a humanidade e o outro deixa de ser um esquecimento ou um amontoado de impressões. Quando o "eu" assume as categorias de unidade, pluralidade, totalidade, causa, efeito, substância, e todas estas categorias e entra na relação do conhecimento, o "eu" aproxima-se da unidade do sujeito cognoscente.
Como vimos nestes artigos, a sensibilidade tem duas formas ou estruturas a priori que são o espaço e o tempo. O intelecto tem dozes formas ou estruturas a priori que são as categorias. A unificação da sensibilidade com o intelecto produz o conhecimento puro a priori que temos das coisas.
Em próximos artigos falarei sobre as faculdades da razão e as idéias da razão, porque a razão tem tres formas ou estruturas a priori que são as idéias.

KANT IV : ANALÍTICA TRANSCENDENTAL

Após as abordagens kantianas com respeito à Estética Transcendental, vamos agora analisar a Analítica Transcendental. Na primeira analisamos a primazia do espaço e do tempo para o conhecimento, agora analisaremos a primazia do indivíduo através dos juizos sintéticos a priori, para compreender as diferenças dos fenômenos, suas causas, efeitos, transformações, leis, o porquê de nós termos certeza a priori dos objetos reais.
Temos consciência prévia de que há transformações na natureza, de que há trocas, mudanças, gerações, causas, efeitos, leis, propriedades,que não existem por acaso, mas tem leis próprias, propriedades, que podem ser resumidas em fórmulas matemáticas, ações e reações mutuamente produzidas, cujas fórmulas sintetizam realmente como elas são ou como se desenvolve todo o processo de sua existência.
As causas, as essências das coisas que são possivelmente reduzidas nas fórmulas, não nos são enviadas pelas coisas, mas são intrínsecas em nós mesmos. Nisto reside o conhecimento a priori da física.
Então é preciso recorrer a Descartes, o qual Kant conhecia profundamente, para entrarmos em sua obra da dúvida metódica. Descartes começa seu trabalho científico duvidando de tudo. Descartes teve uma educação jesuítica que era a melhor em sua época, mas baseada no conhecimento antigo aristotélico/platônico, ultrapassado pela revolução cultural a partir do século XV. Descartes começa duvidando dos mestres que o ensinaram. Todos nós sabemos que o conhecimento de sua época era baseado no aristotelismo e platonismo. Com a revolução da ciência moderna feita por Galileu, caiu por completo o pensamento antigo. A Física de Aristóteles, por exemplo, tornou-se ingênua. O desenvolvimento das grandes navegações, o surgimento do protestantismo, o antropocentrismo, a revolução astronômica de Copérnico, a física de Galileu, mudaram o mundo por completo e levou os pensadores a serem mais cautelosos, porque a mudança de paradigmas foi total: a terra deixou de ser plana, tornou-se redonda, não era mais fixa, agora movimentava-se em torno de si e do sol, não era o centro do universo, mas apenas um astrinho a mais no meio de milhões, o teocentrismo (Deus no centro) cai em ruínas cedendo lugar ao antropocentrismo (homem no centro), aparecem outras civilizações,enfraquece o poder papal, estuda-se as leis do movimento, da pressão atmosférica, explodem as idéias do renascimento em todas as áreas do conhecimento.
Descartes vive ardorosamente este momento e representa o epicentro da dúvida. Ora, ele havia estudado com os mestres que sustentavam o passado inocente e ingênuo do conhecimento. Vendo a responsabilidade sobre seus ombros, ele inicia o lapidar de um novo pensamento.
Então começa a duvidar de tudo. Duvida que seu corpo é como ele vê. Que as coisas aqui fora são como aparecem. Ele sabe que um pedaço de madeira dentro d'água fica retorcido e fora d'água fica diferente. Percebe que estamos mergulhados em um ambiente múltiplo a partir de nós mesmos que pode modificar a essência das coisas. Intui que o cérebro humano não necessita de ver imagens para produzi-las. Uma prova disto é que quando sonhamos, estamos trancados dentro de um quarto e no entanto caminhamos por praias, lugares, saltamos, conhecemos outras pessoas, etc. Ele mesmo pergunta se nós estamos acordados ou se estamos saindo de outros sonhos! Mas chega um momento em que ele reduz a dúvida de tudo ao máximo: só não pode duvidar de que esteja pensando. Então proclama "Penso, logo existo!", em latim Ergo cogito, Ergo sum, provando a existência do "EU".
Porém, não que ele negue a tudo. Ele diz que você pode pensar tudo, e que daquilo que você pensa, algumas coisas podem existir ou não, mas ninguém pode negar que você esteja pensando e só há validade de realidade, naquilo que seu pensamento credita(dá crédito) existir. Se você pensar num touro com asas voando, seu pensamento vai provar por si mesmo que isto não existe na realidade. Seu pensamento é a máxima autoridade da validez ôntica das coisas. Assim, somos formuladores de juízos. Então tudo o que é possível de validez dentro da realidade, tem que passar pelo crivo de nossos juízos. Kant se baseou demais nisto! Quando digo que "X" é verdadeiro, foi porque correlacionei "X" com outros fatores, sejam eles "Y", "Z" estabelecendo aí raciocínios conectivos que me levaram à consequência do resultado "X". Pois bem, a função racional, intelectual dos juízos me permite desvendar as leis ontológicas dos objetos! Sou "eu" que percebo as leis universais e não são os objetos que me fornecem estas leis.
Para continuar este artigo, escreveremos outro sobre a lógica formal de Aristóteles e o complemento que Kant faz classificando categorias sobre os juízos da lógica formal. Obs.: Nós não podemos jogar Aristóteles todo fora, mas a física aristotélica caiu por terra com a física de Galileu, Newton, Einstein, Física Quântica, Teoria das Cordas, etc. Ainda tem uma turminha que está com os conceitos da física aristotélica, outra com a física das cordas em diante. É desta última vertente que sairá a possibilidade de se descobrir uma nova forma de energia totalmente diferente da originária do petróleo, que é a retirada da força atômica do átomo de hidrogênio. Nesta época, haverá nova mudança de paradigma no Planeta, porque as rédeas do poder sairão das mãos atuais e vão passar para outras mãos e também haverá a possibilidade de se viver um novo tempo.

domingo, 10 de outubro de 2010

URGENTE: LEIAM O BLOG www.adameveelsalem.blogspot.com, onde o sábio escritor Adameve El Salem conta suas maravilhosas histórias do Oriente Próximo.

KANT III - CONT. ESTÉTICA TRANSCENDENTAL

A Estética Transcendental(doutrina do conhecimento sensivel e de suas formas a priori) é a maneira como o homem recebe as sensações e como desenvolve o conhecimento sensivel.
Neste artigo pretendo explicar os termos ou a terminologia que Kant usa para não confundirmos com nomes usados eventualmente em português.
a) SENSAÇÃO: quando você passa perto de um ferro elétrico e sente o seu calor, quando vê uma toalha vermelha e percebe esta cor, quando come uma cocada e sente seu sabor, todas estas ações que o objeto provoca sobre você, trazendo-lhe uma modificação ou impressão, representam a SENSAÇÃO.
b) SENSIBILIDADE: é a faculdade que temos de sermos modificados pelos objetos quando recebemos as sensações.
c) INTUIÇÃO: é o conhecimento imediato dos objetos fornecidos pela sensibilidade. O intelecto não intui, ele pensa sempre referindo-se a dados fornecidos pela sensibilidade.
d)FENÔMENO(PHAINÓMENON/GREGO): É o objeto como ele se representa em nós, pois nós não captamos o objeto como ele é em si, mas como ele aparece e se manifesta em nós, porque o conhecimento sensorial (a sensação) é uma transformação que o objeto provoca em nós.
O fenômeno consta de matéria e forma. A matéria é a posteriori, pois só é possivel pela experiência, pois é dada pelas sensações ou modificações provocadas em nós (doce, frio, cor, som, etc.) em consequência da experiência, produzidas em nós pelos objetos.
A forma, não vem dos objetos, mas do sujeito. É como se organiza ou como é o modo de funcionamento da nossa sensibilidade, quando recebe os dados sensoriais provocados pelos objetos. Se ela é um modo de funcionamento e de organização da nossa sensibilidade, ela é a priori em nós.
A forma é intuição pura. O conhecimento sensivel em que estão presentes as sensações ele chama de intuição empírica. Porém, a forma, que ele chama de intuição pura, que é como se organiza o funcionamento de nossa sensibilidade, já existe a priori em nós e são duas: O TEMPO e O ESPAÇO.
A partir de Kant, estes dois princípios do conhecimento, deixam de pertencer à ontologia estrutural dos objetos, para serem a priori no próprio sujeito.
Independentes delas já existirem no universo, elas já existem em nós com todas as suas possibilidades, mistérios e enigmas. O espaço abarca tudo o que é externo e o tempo tudo o que é interno. Porém, veja o primeiro artigo, pelas possibilidades matemáticas, o tempo tem uma primazia sobre o espaço. Por isto, eu, pessoalmente, acredito que a matemática tenha condições de chegar aos portais da construção do universo. Não é à toa que os pitagóricos dela se ocupavam.
Nós somos configurados desta forma e outros seres podem perceber a realidade de outras formas. Espaço e tempo não são inerentes às coisas, mas são as formas como nosso aparelho capta as coisas e vê o mundo lá fora. Este espaço e tempo que estão lá fora podem ser de outra forma, pois nosso aparelho a priori joga estas coordenadas no exterior para interpretar o universo e fazer a diagramação dele.
O que não deixa de ser uma ferramenta misturada ao objeto que traz resultados maravilhosos.
A nossa intuição é chamada de sensivel porque tem esta forma a priori de espaço e tempo para configurar as coisas. Só se ela fosse originária (uma espécie de Deus) no momento em que ela cria as coisas é que poderia conhecê-las como são em si mesmas. Em outras palavras a nossa intuição é sensivel não é originária, não é produtora de conteúdos materiais, é apenas formada dentro das possibilidades de espaço e tempo para compreendê-los conforme nossa configuração e não conforme eles são em suas realidades mesmas(noumenon). Interpretados em nosso aparelho sensivel como fenômenos(phainómenon).
Elas são as maiores possibilidades da geometria e da matemática. Todos os juizos sintéticos a priori da geometria dependem de nossa intuição pura a priori de espaço. Posso construir triângulos, por exemplo, em minha intuição e quaisquer outras figuras geométricas com suas intrínsecas leis.
Já o fundamento da matemática está no tempo, a começar pelas operações de somar, subtrair, multiplicar, dividir que são temporais, sem prescindir do espaço. Lembre-se quando escrevi no primeiro artigo que as coisas existem dentro e fora de mim ao mesmo tempo. Ele tem esta especialidade. Veja o primeiro artigo sobre Kant.
Agora vai um conselho: coloque-se a pensar. Quando você pensa, usa o intelecto que se apodera das funções dos conceitos e alcança a unificação e a ordenação de todos os múltiplos da natureza numa representação comum.
Lembra-se que Einstein dizia que o aparelho que ele usava era sua imaginação? Foi com ela que ele sintetizou, unificou e ordenou numa fórmula a teoria da relatividade: E = MC2 (OBS. O ÚLTIMO C TEM UM 2 APÓS, ISTO É C ELEVADO AO QUADRADO).

sábado, 9 de outubro de 2010

KANT / CONTINUAÇÃO II

O pensamento de Kant é importantíssimo para todos nós, independente da profissão que exercemos. Ainda estou falando apenas da forma como Kant explicou a aquisição de nossa fonte de conhecimento. Estou na primeira parte que é a sensibilidade, por onde os objetos nos são dados. Depois falarei no intelecto, por onde os objetos são pensados. A intuição será vazia sem a presença dos conceitos, daí vem o equilíbrio entre a sensibilidade e o intelecto, cuja função é a lógica geral e a lógica transcendental. Mas deixemos o intelecto para depois.
A questão de Kant era esta: de que juizos se vale a ciência? Certamente que de proposições ou juizos universais, necessários e que desenvolvam este conhecimento. Vamos então ver o que são juizos, para encontrarmos os da validez científica.
Um juizo é a junção de dois conceitos, onde um é sujeito e o outro predicado.
a)Se digo "todo corpo é extenso", o predicado "é extenso", torna-se óbvio com o sujeito "todo corpo". Extensão é sinônimo de corporeidade. Este juizo é analítico. Ele é a priori, pois não precisamos da experiência para enunciá-lo. Ele é universal e necessário, mas não aumenta o conhecimento. Necessário é quando não há espaço para a contradição.
A ciência pode usar este juizo, mas não é o seu principal, e não pode ser este juizo analítico a priori.
b)Se digo "todo corpo é pesado", o predicado está acrescentando algo ao sujeito. Pesado não é sinônimo de corporeidade. É um juizo ampliador do conhecimento. É um juizo sintético baseado na experiência. Ele é a posteriori, mas sem universalidade e necessidade. O peso de um corpo pode variar em locais diferentes. Veja que Kant conhecia profundamente o pensamento de Newton e Leibnz. Ele é um juizo sintético a posteriori. Não é o principal juizo da ciência.
c)Quando eu digo 23 + 17 = 40 ou "a reta é o menor caminho entre dois pontos" , "por mais que o mundo se modifique a quantidade de matéria é sempre a mesma", entre outras afirmações científicas, estou usando juizos sintéticos a priori, na base da intuição (veja no artigo anterior intuições e conceitos).
Olhe que interessante: estou usando juizos sintéticos a priori e não a posteriori. Estou unindo a aprioridade com necessidade e universalidade.
Vamos pensar nos fundamentos dos juizos estudados:
a)nos juizos analíticos a priori, o sujeito se equivale ao predicado, então seu fundamento está no princípio da identidade e da não-contradição. Não posso dizer que o corpo não é extenso!
b)O fundamento dos juizos sintéticos a posteriori, já que são experimentais, é a própria experiência.
c)Os juizos sintéticos a priori(os principais da ciência) não conectam predicados iguais ao sujeito, mas diferentes, então não se firmam no princípio da identidade e de não-contradição.
Não se baseiam na experiência porque são a priori e são universais e necessários. E agora, como solucionar a incógnita X, isto é "O que é a incógnita X, na qual se apóia o intelecto quando crè encontrar fora do conceito A um predicado B, estranho a ele e que, apesar disto, acredita estar conjugado a ele?". Responder a esta questão é a alma e o cerne do criticismo.
Vamos lá. A matemática no seu início entre os povos antigos era simplória. Porém, quando Thales de Mileto abstrai a geometria, principalmente na questão do triângulo isósceles, percebe-se que não se apegou na figura exterior dele aqui fora, mas que aquilo brotou dentre dele, de seus conceitos internos, de sua intuição e seus conceitos interiores. Ele não apreendeu leis na figura vista, mas foi uma gestação interna de sua mente que produziu aquilo tudo, que depois se voltava também reproduzido.
A mesma coisa na fundação da ciência moderna. A física ficou aristotélica desde Aristóteles a Galileu (em próxima ocasião escrevo como era a física de Aristóteles, agora o assunto é outro). Porém seja Galileu escolhendo pesos e planos inclinados; seja Torricelli suportando no ar um peso que ele já sabia qual era numa coluna d'água pré determinada, ambos estavam a priori impondo intuição e conceitos da razão sobre a natureza. Era a razão que primeiro movimentava para depois compreender o movimento da natureza. A razão estava fabricando artefatos para mensurar a natureza.
Então Kant fez uma revolução igual a Copérnico com seu pensamento. Copérnico percebendo que a terra parada e o universo rodando em volta dela, não dava para explicar todos os fenômenos universais, inverteu seu raciocínio, colocando a terra em movimento ao redor do sol.
Kant descobre que não é pesquisando os objetos que descobrimos como eles são. Pelo contrário a tomada do mundo externo vai refletir em nós como nós somos em nossas possibilidades, e que conhecemos como fenômenos e nunca saberemos como eles são em sua essência mesma. Os objetos se manifestam em nós pela condição de nossa natureza. Kant dizia que das coisas nós só conhecemos a priori aquilo que nelas mesmas colocamos. Suponhamos que você tem uma máquina fotográfica programada da seguinte forma: toda coisa reta nela se projetaria como sons: toda cor nela seria espaço; todo som nela seria tempo, etc. Agora imagina você fotografando o mundo com esta máquina. Nós somos uma máquina fotografando o mundo. O que sabemos do mundo, que acreditamos que ele seja, são as fotografias que obtemos dele através de nossa sensibilidade e intelecto. Nunca saberemos como ele é realmente. Mas deixo uma coisa em aberto: a razão com suas leis pode alcançar a lógica como o universo é desenvolvido. Neste segredo e nesta mágica nós devemos nos amparar. Você é que vai se aprofundar neste trabalho. Futuramente também vou escrever sobre Parmênides na questão do SER e você vai ficar encantado. Acredito que tanto Descartes como Kant, entre outros, estavam assentados sobre Parmênides e até agora, ninguém percebeu realmente a profundidade de seus pensamentos.
Está demonstrado o fundamento dos juizo sintéticos a priori: é o sujeito que sente e pensa, com suas leis da sensibilidade e do intelecto.
Continuaremos com este assunto de extrema beleza científica.

sábado, 2 de outubro de 2010

KANT I: ESTÉTICA TRANSCENDENTAL / ESPAÇO/TEMPO/GEOMETRIA E ARITMÉTICA

Inicialmente elevo meus pensamentos respeituosos ao grande KANT e a todos aqueles que perceberam sua grandiosidade. Kant trata da ESTÉTICA TRANSCENDENTAL de forma científica. A palavra estética hoje tem sentido de beleza, etc., mas KANT se utiliza da etimologia na sua origem grega AISTHESIS, que é sensação ou percepção, portanto ESTÉTICA é TEORIA DA PERCEPÇÃO ou TEORIA DA SENSAÇÃO. Para KANT, TRANSCENDENTAL está no sentido de como algo seja objeto do conhecimento. O que é o espaço? Você pode pensar o espaço vazio, sem objeto algum, sem nada dentro dele, porém, não poderá pensar objeto algum sem espaço. Veja que o espaço por este tão simples raciocínio não depende da experiência, mas esta depende do espaço. O espaço é puro, isto é, a priori. O espaço não é um conceito. Os intelectuais que fazem conceito do espaço, estão pensando com pernas muito curtas e não se adiantam no caminho do pensamento. Vou lhe mostrar a diferença entre conceito e intuição. O conceito de pedra envolve diversas formas de pedras. O conceito de árvore engloba diversas formas de árvores, etc. O espaço, não é um número indefinido de espaços. Ele é o próprio espaço, único, total, pois os diferentes espaços que conhecemos estão inseridos no grande e único espaço. Por esta razão ele é intuição, porque os diferentes espaços que conhecemos pertencem ao espaço universal, a priori, puro, existente dentro de nós (a priori e puro são sinônimos), por isto ele é intuição pura, a priori. Transcendental é o existente de si por si, transformado em objeto do conhecimento e uma das condições para as coisas serem objetos do conhecimento é o espaço a priori, puro. Subpostos às nossas sensações e percepções temos substratos, noções em nós mesmos, que nos dão condições de compreender as coisas em nós mesmos e uma destas condições é o espaço a priori, uma condição de cognoscibilidade das coisas. Na geometria a realidade se encaixa com a intuição pura, a priori. A figura que você pensa com suas leis geométricas é perfeitamente harmônica com aquela que você traça em seguida. Seria possivel uma aritmética pura, já que é possivel uma geometria pura, conforme a explicação do espaço como intuição a priori(pura) já que suas leis intuidas a priori, puras podem ser transportadas para a realidade? Então incluindo agora a aritmética, será preciso pensar o que é tempo. Ele é a priori, puro, isto é independente da experiência? Temos que ver isto, porque é impossivel tratar da aritmética desconhecendo o tempo. Lembro que puro é sinônimo de a priori. Há um quantum infinito em que as coisas vão se sucedendo e acontecendo sem cessar, elas vão e vem por ele. Este quantum infinito é o tempo. Podemos imaginá-lo ao todo com as coisas acontecendo dentro dele. É possivel percebê-lo grandioso, sem acontecimentos. Mas não é possivel perceber qualquer acontecimento fora dele, sem ele. Caimos na mesma questão do espaço. Podemos imaginar o espaço sem coisas, mas não podemos imaginar coisas sem espaços. Podemos pensar no tempo, mas não podemos pensar em fatos fora do tempo. Tempo é intuição pura, a priori, pois é o grande e infinito tempo. Ele não é conceito, porque conceito como demonstrei acima é uma unidade do múltiplo. Assim, demonstrado está que ele é intuição pura, isto é a priori. Quando somo, subtraio, calculo, conto, etc. utilizo momentos do grande tempo, manejo "antes e depois", "quando e como", "logo e portanto", "como queremos demonstrar", se queremos é porque queríamos, são tempos antes e depois,manipulamos juizos sintéticos e a priori, no campo da intuição pura, porque são várias etapas de tempo, mas do único tempo universal, não de tempos diferentes, porque o tempo é um só na sua extensão, então é realmente intuição pura, a priori e não um conceito. O tempo, a aprioridade e a intuitividade do tempo são as possibilidades dos juizos sintéticos puros na aritmética. Se não houvesse em mim a intuição pura do tempo eu não realizaria a aritmética. Ela não necessita de recursos experimentais para se plenificar, pois tem o tempo como forma de sensibilidade e que depois se transforma em matemática aplicada na realidade. E se depois é observada por um outro na realidade, vai se encaixar adequadamente com sua realidade interior de intuição pura do tempo. Espaço e tempo são formas de sensibilidade, ou seja são modos de faculdade de nossas percepções. O espaço compreende percepção externa e o tempo percepção interna. Mas espera um pouco, o externo é bifacial, pois é presentativo, isto é o que está lá fora e o que é percebido dentro de mim..... ao mesmo tempo, dentro e fora de mim. Esta é a especialidade do tempo, seu grande privilégio de ser uma forma de sensibilidade externa e interna, pois fora e dentro de mim as coisas estão ao mesmo tempo! Este é um passo fundamental para a geometria e a aritmética deixarem comprovadamente de ser ciências paralelas para co-pertencerem, como ciências mutuamente compenetradas. Esta coerência, que não existia na Antiguidade, passa a existir antes de Kant, com Descartes unindo geometria e álgebra, com a geometria analítica, possibilitando reduzir figuras a equações, assim como Leibniz com o cálculo infinitesimal, as questões da lei de desenvolvimento de um ponto em quaisquer direções do espaço, encerrando numa fórmula diferencial ou integral as diferentes posições sucessivas de um ponto independente do percurso. Meu caro, as leis matemáticas são tiradas da cabeça, a priori, puras, independentes da experiência, porque o espaço e o tempo, são suas duas colunas principais, são formas de cognoscibilidade das coisas, ou melhor, condições para entendermos as coisas (mas nunca como elas são na realidade), estruturas a priori que lançamos para fora sobre o mundo, da mesma forma que seus olhos vão iluminando para fora de forma que os entes apareçam, submetidos às suas estruturas internas de tempo e de espaço, mas que nunca saberemos como eles são em si mesmos, sem estes holofotes que lançamos sobre eles. Os objetos se apossam dessas formas (tempo/espaço) que projetamos sobre eles e se transformam em nós, de volta para nós, como conhecimento, por isto não sabemos como são as coisas em si mesmas; só as conhecemos quando jorramos sobre elas as nossas intuições puras(a priori) de espaço e tempo, que não pertencem a elas, são formas de nossas possibilidades do conhecimento. Recobrimos as coisas com nossas intuições puras(a priori) de espaço e tempo e em nós elas são fenômenos, formas de conhecimento em nós a respeito delas. Nunca saberemos como elas são na realidade delas mesmas, sem esta interferência nossa, elas em si são noumenon e em nós atravessadas pelo lançar nosso do espaço e tempo, são fenômenos. É como queremos demonstrar.