Vivemos numa época de abundância. Há de tudo. A eletrônica, a informática, a tecnologia em geral, então criou quase tudo para abastecer a curiosidade humana.
Há vários modelos de carros, barcos, sapatos, vestidos, roupas em geral, jóias, alimentos, lazer, mas por outro lado quem realmente pode usufruí-los?
Veja como esta pergunta nos deixa em suspense. Pior ainda, a mídia incita com todas as suas alteridades possíveis que o cidadão use e use. O bombardeiamento diário, a oferta abusiva, a rapidez com que se muda o modelo de carro, as marcas, os designs de tudo, deixa o indivíduo atônito. Não há mais indivíduo, o que ficou em seu lugar é o consumidor. Um ser humano mais veroz para adquirir meios de consumo do que um roedor quando está em fase de crescimento de seus dentes.
Como somente uma parte mínima da população, a parte que detém os poderes, tem condições de acesso a toda esta panafernália consumista, a outra parte fica psicologicamente disorientada. Entre vários fatores declaramos: baixa estima social, assalto, violência, etc. Importa aqui informar que a verdadeira violência social é a violência do sistema nacional sobre o cidadão civil e o que chamamos de violência, são desajustes psicosociais em grnde parte provocada pela violência do sistema.
Vivemos uma época de facilidades. Tudo se tornou instantâneo. Não só o macarrão, o feijão, o café, o pão da manhã, a polenta, a pizza, mas também a comunicação. Mas com isto perdemos o nosso lado lúdico. Distanciamos da qualidade real da natureza, dos grãos, das sementes, dos pólens, do trabalho manual, do fazer ligado ao prazer de ver feito. Do encontro amistoso. Encontramos a inércia e junto com ela o pânico.
Vivemos em uma época tecnológica. As máquinas fazem por nós. Por elas perdemos nossos empregos. Elas fazem os principais trabalhos e para nós sobra a terceirização dos mesmos. Não podemos mais ter a magnitude de ver nosso trabalho surgir de nossas mãos, de nosso ser, de nossa expontaneidade. Ao visitar uma das maiores empresas de plantação de mamão, fiquei horrorizado. Não há trabalhadores. O sistema de irrigação é importado de Israel e feito eletrônicamente, calculando quantas gotas cada pé deve receber por minuto. Os homens só aparecem para a colheita do mamão. Surgem como figuras de filme apocalíptico em cima de caminhões, como diaristas e comendo marmitas azedas. Depois voltam para as periferias, a maior parte para beber, provocar confusões, em outras palavras retribuir inconscientemente a violência que recebem do maldito capitalismo nacional, que os expulsou da terra, onde plantavam feijão, arroz, abóbora, mandioca, mamão, abacate, laranja, produtos estes que estão todos ensacolados em pó nos supermercados, porque nossa sociedade hoje é instantânea.
Como o robot e o cidadão desumanizado está fazendo tudo, fica mais fácil produzir de tudo, em países onde não existe uma autêntica organização de leis trabalhistas. Com isto a indústria nacional cai a zero, o governo se descontrola e tenta através do Banco Central controlar artificialmente e mecânicamente o país com o jogo das moedas. A tecnologia avançada também provoca desemprego, pois a maior parte dos trabalhos executados por engenheiros, arquitetos, projetistas, consultas de mercado, produtos de consumo em geral, etc. podem ser feitas em quaisquer países asiáticos que cobram por estes mesmos serviços um preço com 60% de diferença, porque entraram dos pés à cabeça na era industrial recentemente, mas com uma ética social medieval.
Desta forma a frustação social chega aos limites dos engenheiros, médicos, tecnólogos de ponta, etc.
Isto sem contar que para produzir mais, tem que adubar quimicamente mais, pulverizar mais, transgenizar mais, expulsar mais o homem do seu locus agrário e social.
Onde está o real sentido social?
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