Comparo o Brasil como um galho que cai em um redemoinho e ali fica rodando infinitamente sem tomar o curso do rio. Nosso país desde sua invasão portuguesa é devassado pela extração, extinção, exploração da natureza e do ser local.
Os invasores primordiais tinham a propriedade da terra em forma alodial e plena(livres de fóruns, vínculos, pensões e ônus). D.João III, em 1534, dividiu o Brasil tordesilhiano em 15 enormes faixas de terras, as capitanias hereditárias, com carta de doação, carta foral, com o donatário na figura de um semi-deus, para exercer a "guerra justa" contra os índios, escravizando-os e matando-os. Anteriormente, os indígenas iam a mando português destruindo a mata de pau brasil (madeira de aprox.10 a 15m de altura por 1m de diâmetro), devastando toda a costa atlântica, em troca do comércio de escambo, em carater predatório. Hoje, é comum multinacionais ganharem imensas faixas de terras, para estabelecerem indústrias, com isenção de impostos e também expulsão do homem, do pássaro, do sapo, da biosfera, etc.
Iniciaram com as capitanias o ciclo da cana de açúcar que avançava quilômetros de mata adentro e mortandade indígena. O primeiro século da invasão devastou 10 mil quilômetros quadrados da mata atlântica e derrubou aproximadamente 6 milhões de árovres. Depois vieram cinco séculos de fogo sobre a terra, a popular queimada. Se há cinzas sobre as quais deveríamos derramar nossas lágrimas, seria sobre as cinzas da mata atlântica que se misturaram com as cinzas das civilizações indígenas e dos escravos africanos mortos. O monopólio comercial da metrópole portuguesa de mãos dadas com a Companhia de Jesus, conseguiu assentar o início do sistema capitalista brasileiro. No começo, a Igreja instalou também o Tribunal da Santa Inquisição na Bahia, Pernambuco, Pará e sul da colônia, matando milhares de cristãos novos (judeus convertidos ao cristianismo, como meio de conservar-se vivo). A produção açucareira trouxe o escravo africano para derramar suor e sangue sobre o solo. Monocultura e escravidão, este era a lógica do sistema. É interessante registrar que a população indígena já praticava uma agricultura familiar (mandioca, milho, tubérculos, frutas, etc). O escravo tinha o domingo para cuidar de sua própria agricultura familiar. Alguns senhores de engenho davam um dia a mais. A população colonial vivia em baixíssimo nivel de nutrição. Os senhores de engenho tinham o poder de compra de todas as suas necessidades vitais. Predominava o latifúnido, propriedade monocultora, escravocrata, exportadora ou melhor plantation. Depois chegou a era das entradas e bandeiras, massacrando os índios interioranos, recapturando escravos fugitivos(quilombolas) (sertanismo de contrato), devastando a natureza em busca de pedras e metais preciosos (bandeirismo prospector). Destruindo imensas terras interioranas e iniciando a implantação das grandes fazendas de gados.
O ciclo do ouro, embora tenha construido cidades e estradas e contribuido para a expansão de nosso território (indo além do Tratado de Tordesilhas), ergueu núcleos habitacionais à beira dos rios, despejando todos os dejetos sobre eles, além de destruir suas margens e cabeceiras. Todas as cidades brasileiras foram erguidas da mesma forma.
Todos os ciclos econômicos brasileiros, seja da extração do pau brasil, das madeiras de lei, do açúcar, do ouro, da mandioca, do cacau, da borracha, do café, do eucalípto, da instalação das indústrias, continuou com a mesma ética e ótica capitalista mercantilista e exploratória colonial: destruição total da natureza, expulsão do homem de sua agricultura familiar, instalação das grandes propriedades, latifúndios, monocultura, escravidão e exportação. Agora chegou a era do pré-sal. Espero que não seja a época da destruição de nossas mares, dos peixes, dos manguezais, das praias, e do envio de royalters para as mãos dos capitalistas estrangeiros (a metrópole moderna que apenas mudou de eixo).
O capitalismo selvagem brasileiro conseguiu inverter a história do homem sobre o planeta e driblar a harmonia natural do meio ambiente. No início, nas eras paleolíticas e neolíticas, os homens viviam em bandos e eram coletores e caçadores, sendo seu único inimigo a fera que rondava em sua volta. Hoje, no Brasil, ele está no paleolítico/neolítico, continua um coletor/caçador pré-programado para as colheitas das grandes plantations, chegando em cima de caminhões, esqueléticos, desnutridos, destroçados, terceirizados, para um dia fatal neolítico/paleolítico. Depois voltam para o inchaço das periferias das cidades, para se naufragarem no alcoolismo e desilusão. Atenderam à produção agrotoxicada, inseticidada, transgenizada e desumanizada. A fera, o capitalismo selvagem, este terrivel Leviatã, esta besta apocalíptica que devora tudo por fora e por dentro, inclusive o ecossistema, a própria biosfera, controla mecanicamente e midiamente, enquanto a população fica deitada eternamente num berço de ouro, de ouro não, de ingenuidade e alienação. Ah! Perdoem-me, é de ouro sim. O ouro fica com eles.
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