quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

QUE MUNDO É ESTE?

Vivemos numa época denominada de global, porém uma observação mais criteriosa, crítica e cirúrgica, leva-nos a identificá-la como reducionista e simplicista. O psiquismo se reduz ao neurologismo. O corpo se submete em toda a sua magnitude à plasticidade. A cura terapêutica se perde na rapidez imediata, no sucesso do dia seguinte após uma introjeção pseudo-psicanalítica. A longa conversa, escavadora e arqueológica do inconsciente, substituiram-na por cursos de curto período ministrados por profissionais de formação relâmpaga, ou enganosa.
Desta forma, os problemas pessoais se refugiam em outros meandros intra-psíquicos, provocando danos imediatamente imperceptíveis, porém desastrosos ao longo da vida.
Vivemos a era do vazio, da varredura narcisística através da mídia, da inversão de valores e do virtual soterrando o real, expondo a aparência de uma mente plena, porém, sem sentidos.
Quando se anula ou se ausenta a função materna/paterna que é a construção ideal da consciência, cava-se um fosso, onde se enterra viva toda a possibilidade humana.
Construimos sim, numa sociedade sem sentido, um ser humano dentro de uma cultura não simbólica e frágil. Família sem elos, sem histórias para contar, sem os contos míticos familiares, sem paisagem de passado, permanência de presente e transcendência de futuro.
Era do consumo, do vazio, da magreza light, da violência social ignorada e da violência disseminada para um campo mundanizado.
O uso indiscriminado da televisão e da mídia em geral, abole o momento mágico de onde brota toda a fonte do pensar, do sentir, do intuir, do criar, do reproduzir.
Esta situação conduz ao erotismo, ao voyerismo, ao canibalismo cultural, ao mundanismo do sagrado, do mítico, do religioso, do humanismo; originando pessoas apáticas, frágeis, frígidas, sem significado e sem cosmovivência.
A instantaneidade não só na terapia, como na alimentação, no ir e vir, no lazer, nas compras, nas trocas sociais, implode o crescimento do ser, mina suas concepções de sociedade, de universo, de humanidade, tornando-o um robot pelas vicissitudes de uma época abstrata do real.
O contato com o outro e com a natureza é o verdadeiro amálgama da transformação humana e quando ele se distancia da práxis vivendus, um vírus destrutivo contamina o tecido humano e social, o que leva à marginalização de muitos, à angústia, ao pânico e à solidão.
Hoje, mais do que nunca, torna-se urgente a presença de filósofos terapêuticos que sejam porta vozes proféticas da salvaguarda noética deste mundo cataclístico que nos antepara e que engana a humanidade, levando-a por uma vereda, que termina numa encruzilhada surgida na ausência do sentido de ser e de viver.