quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VOCÊ

De você
tenho saudade,
tenho,
porque não tem
nada neste mundo
que a apague.

De você
tenho lembrança,
tenho,
porque não tem
nada neste mundo
que substitua
seu sorriso
de criança.

Quanto mais
tento te esquecer
mais me lembro de
você.
E não há em minha
mente,
movimento que
me ausente,
do torvelinho
desta dança,
seu olhar,
seu olhar,
seu olhar
sempre me alcança.

CONVITE POÉTICO

Sou poeta,
por isto vos empresto meus olhos,
meu coração e minha alma.
Através de meus olhos podereis ver
o que não percebia antes,
não somente as coisas misteriosas
que permanecem misteriosas,
mesmo após decifradas,
o que não é facil de entender,
porque o poeta não perde tempo
com teoremas e enigmas,
pois deles cuidam os cálculos e
o raciocínio lógico,
mas também de coisas singelas
que vale a pena notá-las, como
por exemplo um sol se pondo, uma flor
pelo canteiro do caminho, um pássaro
cruzando o céu,
do vosso viver cotidiano,
mas que estavam a anos luzes do vosso perceber.
Também vos empresto meu coração,
para sentir o que há de semente no pássaro,
o que há de ninhos trançados nas árvores e o
que há de fonte solar em tudo que há,
mas que estavam tão perto de vós,
que de tão perto se desfaziam ao longe.
Vos ofereço por último a minha alma,
para que possais intuir o ser,
o ser uno e permanente,
que vagueia no colorido do poente,
que esvoaça nos ramos das árvores,
que baila com o abrir e fechar das
asas dos pássaros,
cuja sinfonia vós não poderíeis ouvir
porque lançastes o ser para bem longe de vós.
Sou poeta porque não me afastei desta canção,
deixei que as meninas dos meus olhos brincassem
eternamente de pular corda na linha do horizonte.

domingo, 12 de setembro de 2010

11 DE SETEMBRO SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA

A civilização ocidental jamais esquecerá o dia 11 de setembro, o dia que não acabou, após a queda das duas torres gêmeas do world trade center. Seriam os terroristas árabes apenas fanáticos muçulmanos e facínoras alucinados? Será o ocidente tão perfeito e bonzinho como se propõe?
Primeiramente vamos analisar o símbolo torre no inconsciente humano. Em nosso inconsciente bem longínquo torre traz o aspecto da solidão, do isolamento, mas que guarda uma certa segurança e imponência.Esta construção é arquetípica, porque forma sistemas inatos no inconsciente coletivo da humanidade, que por sua vez criam significados interpretativos para o desenvolvimento da psiquê humana. Uma torre em ruínas é interpretada como doenças e crises, portanto se sonhar desta forma, procure fazer uma consulta médica ou observar seus gastos. Nossa tradição religiosa traz a história da torre de Babel. Relata uma época em que os homens falavam a mesma língua e pertenciam a uma mesma raça. Estes homens resolveram fazer uma torre para chegar ao céu. Resultado: IAVÉ confundiu a lingua destes homens, destruiu a torre. Isto significa o seguinte: o homem deve chegar a Deus por seus atributos espirituais e não pelas suas técnicas materiais. Em outras palavras, quando se psicotiza a Divindade, desestrutura-se a linguagem e cria separação interna e externa. Um bom exemplo disto é quando uma parte do povo de Israel, aguardando Moisés descer do Monte Horeb com o decálogo, cria um bezerro de ouro (Boi Ápis) para adoração. Moisés adorava um Eterno sem imagem, sem forma, figura, assim era equilibrado, forte, poderoso. De outro lado, estes adoradores de ídolos que fizeram o bezerro de ouro, psicotizaram a Deus. Tornaram-se fracos e incapazes de alcançarem seus objetivos. Na Torre de Babel foi o mesmo. Quiseram chegar a Deus de forma material, subindo os degraus de uma escada! Também conhecemos a história da Branca de Neve que aos 15 anos de idade sobe em uma torre, certamente que a partir desta idade as mulheres já estão preparadas a encontrar o seu príncipe encantado.
No nosso inconsciente a torre representa o princípio fundamental do universo que é o princípio masculino/feminino gerador do Cosmos. Observem um átomo, por exemplo. Ele tem um núcleo formado de prótons, neutrons altamente concentrado com suas subpartículas e no campo gravitacional externo os eletrons. Esta tensão permanente é a base do funcionamento atômico. A molécula funciona da mesma forma: um centro e um protoplama! A forma da torre é um símbolo fálico e seu recinto mandala um símbolo feminino.
Na antiga Babilônia tínhamos as torres Zigurates, que eram torres/templos. Tudo isto está em nossa memória genética. O mundo islâmico estendeu-se desde o oriente até o Ocidente na Península Ibérica (Portugal/Espanha). Os templos religiosos islâmicos ou muçulmanos são chamados de Mesquita. Toda Mesquita tem uma torre denominada minarete ou almádene, onde todo o dia sobe um religioso o Almuadem para anunciar as cinco oração diárias. Esta torre está viva em nossa memória genética.
As pirâmides também são torres matemáticas e pontiagudas.
Imagine uma criança brincando nos arredores de uma aldeia árabe. Ela escuta uns estrondos fortíssimos. Olha para trás. Vê uma nuvem de fumaça subindo aos céus. Quando volta, no lugar de sua aldeia, de seus amigos, parentes, pais, líderes políticos e religiosos, sua cultura, só encontra cinzas. Sua psiquê interna fica totalmente destruida. Ninguém sobrevive depois de apagada toda a sua rede intrapsíquica de existência. Depois chegam uns terroristas, recolhe as crianças, leva para um albergue muçulmano fanático, treina, oferece armas... pronto: nasceu o terrorista suicida, que já estava morto antes do treinamento. Mas quem são os culpados de tudo isto? São dois os culpados. De um lado o Ocidente, de outro lado a psicotização da religião.
O Ocidente neste caso em que bombardeia aldeias inocentes é um grande culpado. Desde dezenas de séculos atrás o Ocidente saqueia o Oriente. Os gregos com Alexandre Magno e os imperadores romanos devastaram o Oriente. As Cruzadas com a desculpa esfarrapada de libertar o Santo Sepulcro, impulsionadas pelos Papas Católicos, mas que por trás a verdadeira intenção era saquear o Oriente para salvar a falência da nobreza, fizeram uma destruição desmedida e inesquecivel.Os países europeus também saquearam o Oriente. Aqueles povos vêem os povos ocidentais como gênios do Mal. Eles tem razão, mas não justifica a violência e o terroismo.
Por outro lado a psicotização de fanáticos religiosos muçulmanos ou islâmicos, leva à idéia unilateral de que somente a minha religião e o meu deus é o certo. É aquela história que já contei sobre a verdade. Se você acha que encontrou a verdade, acabou tudo. A verdade não é para ser encontrada, é para ser sempre procurada. Aqui no Ocidente também há grande psicotização da religião. Todas estas pessoas que dizem "meu deus me protege... meu deus me lavou... meu deus me livrou...o não sei o quê do meu deus me livrou disto porque está lavado em nome de..." que ficam a todo momento repetindo estas frases, estão doentes e necessitam de um tratamento psicanalítico urgente, pois criaram um deus só para si e não para todos. Ergueram um deus pessoal, embora afirmem que não são idólatras. Estão realmente bastante doentes.
Aquelas torres caindo, demonstram que os terroristas islâmicos não são nada bobos e conhecem profundamente o impacto que isto provoca no inconsciente coletivo da humanidade.
Tanto Ocidente como Oriente precisam de rever seus valores. Os valores do poder, do colonialismo, da psicostização da religião, devem ficar para a pré-história da humanidade. Em seu lugar assentaremos a LIBERDADE, a IGUALDADE e a FRATERNIDADE.
Ressalvo que toda a religião é boa, quando é tolerante. Não importa se for o judaismo, o cristianismo, o islamismo, o xintoismo, o budismo, o hinduismo, ou qualquer outra crença.
O Livro Sagrado de quaisquer religiões é válido como palavra viva do Eterno. Seja o Torah, o Talmude, o Guemarah, a Bíblia Sagrada, o Alcorão, o Gitá, os Upanishads, os Vedas, etc.etc.etc.
Os muçulmanos que conheci não são fanáticos e aprendi maravilhas no Alcorão, assim como no Torah, nos Vedas, nos Upanhishads, na Bíblia.
De um lado temos duas torres caindo entre fogo e fumaças, permanentes em nossas lembranças, de outro lado temos um religioso Almuadem subindo as escadas da almádene para anunciar o verbo sagrado. Tudo isto está fixo nos arquétipos profundos de nossa psiquê, com o símbolo da torre, com os contos de fada, a Bela Adormecida, as pirâmides, os zigurates, a Torre de Babel, o monte Horeb. Entre estas duas margens devemos construir o futuro de nossa humanidade, com todos os nossos livros sagrados. Eu já dei a abertura do primeiro passo, sei que outros também já deram e que você nos acompanhará neste caminho.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

SALVAÇÃO / PERDÃO / ISRAEL ETERNO

Por incrivel que pareça as duas palavras salvação e perdão, são irmãs em todos os seus sentidos. É muito comum no contato com pessoas evangélicas, escutarmos esta expressão "estou salvo". Será que ele ficou doido? Vamos ver que não! Por outro lado, há quem diga: "Mudei, não tenho dúvida alguma.Não sou mais a mesma pessoa e serei totalmente diferente daqui em diante, mas tem uma coisa lá no meu passado que ainda me traz profunda tristeza, não sei o que faço com ela!".
Uma outra questão é que significado real tem em ser judeu, ser filho de Israel, ser do povo de Abraão?
Em sua origem grega, salvação, da palavra soteria, significa cura, redenção, remédio, resgate. Pela raiz latina, vem de salus, cujo sentido é melhorar a saúde. Vamos imaginar que agora, neste momento, eu tome tanta consciência de mim, do outro, do universo, da idéia do Eterno, que não há mais como me comparar há alguns minutos atrás quando estava tomando meu café da manhã. A partir de agora, sei que tenho o mesmo rosto, com os traços que chegam da idade, meu corpo é o mesmo, minha forma de andar, de amar a vida, de gostar de caminhar em jardins, de subir em montanhas, etc. Mas... não posso dizer que sou o mesmo! Mudei! Louvada seja esta mudança! O meu olhar não vai mais olhar para mim, como antes. Vou perceber que estas rugas possuem o DNA da minha experiência de vida e que elas são chamas vivas, inclusive como propulsoras de minha transformação.
Com certeza estava no mundo de Malkhuth, mas a minha alma, ou neshamah, em hebraico, ascendeu por graus superiores. Então, não há dúvida que ainda sou um homem, mas não há como escapar, de que sou um homem diferenciado dos outros, pois adquiri um estado de consciência mais elevado. Então diríamos que passei a pertencer ao grupo dos eleitos. Na realidade este é o grande chamado a que todo ser humano deveria ouvir e obedecer. Como dizia Valdik Soriano, "eu não sou cachorro não". Falando sério, sou um ser humano, não sou um cão, nem lobo, gato, etc. sou aquele que pode ouvir uma voz que vem do alto e me elevar em busca de sua palavra, sua verdade e sua revelação.
Daí que vem o mito da Arca de Noé, da saída dos judeus do Egito ou da busca à ovelhas perdidas de Israel. Em outras palavras estou salvo. Pulei para dentro da barca segura, fugi do faraó e fui resgatado pelo meu pastor.
Interessante que a palavra Moisés tem sentido como salvo das águas. A barca também te salva das águas e os primeiros cristãos salvavam-se pelo batismo nas águas. Então estou salvo, quando sou curado, redimido e resgatado. Fui lavado em todas as minhas impureza.
Perdão vem do latim, dar plenamente (per + donare), isto é, doação total. Também pode ser instantâneo. Ao perdoarmos nossos inimigos, no mesmo momento, atingimos um outro estado, diferente do anterior. Já não somos mais um agressor, somos um resgatador. Olhe, resgate, faz parte da obra do Eterno. Se entrei numa atitude de salvador, estou na mesma condição do Divino, cuja ação maior é doar sua luz infinita para que encontremos o caminho de retorno à nossa verdadeira condição humana de que somos filhos de Rashem, o Eterno, Aquele que não tem nome. Ao perdoar aos meus inimigos, sou salvo, sou curado e também curo ao meu inimigo. Participo plenamente do seu resgate. Meu coração está livre, não ficará meis preso a um sentimento vulgar e posso abri-lo de tal forma que seja tocado pela luz maior, que vem de Kether, a Coroa, recebendo luz do mundo de Ein Sof, do qual nada sei e nada poderei saber, mas tenho plena consciência que é do Reino Superior.
Mas o passado, aquela dorzinha que vem de uma atitude minha do passado? Como vou fazer com ela, pois não está mais em minhas mãos, já passou! Olhe, escute atentamente o que vou lhe dizer. Talvez seja uma das coisas mais importantes que já ouviu em sua vida. Você pode sim mudar o passado!!! Sabe como? Ao mudar o seu presente e seu futuro, você muda também o passado!!! Não entendeu ainda? Pelo simples pensamento de que a pessoa que você é agora, não é mais aquela do passado! Aquela pessoa morreu, dela só restam cinzas e lembranças. É salutar que fiquem as recordações, para que você perceba que não é o mesmo!!! Elas funcionam como um parâmetro para demonstrar que houve um homem que nasceu de novo.
Você é judeu, é filho de Israel? Não? pois vos convido a ser agora! Nosso pai Abraão também não era judeu, era persa! Ele era de UR na Caldéia. Depois foi para a Babilônia, hoje Iraque. Abraão fazia ídolos para vender. Um dia, passando perto de uma casa, viu um homem orando a um ídolo para que sua filha sarasse. Nosso pai Abraão ficou preocupadíssimo. Aquele ídolo havia sido feito por ele, com barro mesopotâmico e não tinha poder de curar a nadie! De tanto pensar, sua consciência deu um estalo, explodiu e uma voz falou dentro dela " Eu sou , Eu sou, só Eu sou... IHEVHE!".
Naquele momento, nosso pai Abraão deixou de ser caldeu e passou a ser judeu, palavra que na origem sânscrita, significa "aquele que se separou para seguir ao Eterno". Pois bem, qualquer um de nós, que se separar para seguir a esta voz que vem de Rashem, o Eterno, deixa naquele momento de ser o que é, e passa a ser filho de Israel, do povo separado, da cidade da consciência maior acerca da vida, de si mesmo, do outro e de Deus. Muda todo o seu ser. A questão racial é outra. Hoje se diz etnia, mas dá no mesmo. Por exemplo, em Portugal no tempo da Inquisição, vinte por cento da população era de filhos de Israel, quarenta por cento era de descendentes árabes (Filhos de Ismael, a região da Península Ibérica, ou Portugal e Espanha, foi invadida pelos árabes em 711, por isto o estreito de Gibraltar, tem este nome, em homenagem ao Califa Gibral Al Tarik, todo o Algarves e Andaluzia era árabe), ambos filhos de Abraão, seja da linhagem de Isaque ou de Ismael, ou seja através da esposa Sarai ou da serva egípcia Agar. Isto é uma questão cultural somente, que afeta nos modos de ser de muitas gerações. Havia um ditado em Portugal, assim: "de judeu ou mouro, todos nós temos um pouco!". Mas como filhos da judiaria ou da mouraria, não nos conduz a sermos filhos de Israel. Para sermos filhos do Israel Eterno, teremos que voltarmos ao nosso Deus de nosso coração, aquele que tocou na consciência de nosso pai Abraão, que ele largou tudo e seguiu, para recomeçar sua vida com sua gente em outro lugar, em busca da cidade separada para ele. Israel ou Jerusalém é um estado maior de consciência. Não são pedaços geográficos e sim estados mais elevados da consciência.Esta é a Pátria que você deve levar em seu coração, que fará de sua Pátria onde nasceu, um lugar de paz e de bênçãos. À nossa união com o Eterno, pois esta será a nossa moeda de salvação e nosso caminho pelo perdão.

domingo, 5 de setembro de 2010

CENTRO VERSUS PERIFERIA

Nossa forma social/história de enaltecer um centro diretor fora de nosso mundus vivendus possui raízes antigas de dominação e aculturamento, por onde a nossa razão de constatação de nosso mundo deveria avaliar com lentes mais microscópicas. Estas raízes iremos analisar por etapas, da forma como queremos demonstrar.
Desde os longínquos gregos, estes viam seus cidadãos como verdadeiros protótipos humanos em detrimento dos demais, sem nenhuma construção de humanidade como idéia, muito menos aquela que extrapolasse suas fronteiras.
Fora do farol de suas sociedades/estados, seria impossível acomodar quaisquer embarcações culturais... a não ser as freqüentes invasões medos-persas que os assombraram com suas tecnológicas bélicas, mas não os removeram do pensamento mundicentrista.
Esta prova está, quando o macedônio Alexandre Magno invade e domina o mundo grego e adjacências. Os gregos, ausentes de uma idéia única de sociedade, não conseguem sobreviver ao esfacelamento social e nem sob as matizes de outras mesclas culturais, advindas de suas periferias
O caminho estava aberto para os latinos como cultura emergente e por etapas assumem posição hegemônica no mare nostrum (mediterrâneo). Desta vez os filhos do Lácio se julgavam superiores aos demais e a idéia do homem latino imperou por um milênio e meio. Como prova desta tese, a latina foi uma língua mundial na sua época, estando codificada em nossa própria língua por via portuguesa e assim presente nas línguas italiana, francesa, espanhola, etc. transferindo o ancestro de toda a sua cultura.
A nossa península de origem, juntamente com a nossa Mãe - África sucumbiu com nossos antepassados, assim como também sucumbiram as civilizações ameríndias, diante do impacto da visão eurocêntrica. Os iberos e os celtas, seus milenares habitantes, não conseguiram sobreviver sobre o impacto das invasões romanas.
A partir do século V chegaram os visigodos que foram também aculturados aos poucos. Como demonstramos os iberos, os celtas, os visigodos, embora europeus, eram na visão latina, povos de periferia.
Sob este aspecto foram recebidos os árabes a partir do século VIII, junto com os afro-mediterrânicos. Embora a cultura islâmica fosse a mais adiantada daquele momento em matemática, química, astronomia, filosofia, literatura, tecnologia, o que persistiu em sete séculos de luta, foi a visão etnocentrista européia.
Como podemos demonstrar historicamente, o pensamento de dominação está sempre relacionado à lógica de centro versus periferia e dentro de um quadro destes, não seria difícil de perceber, qual seria o destino dos africanos nossos irmãos e dos povos indígenas. Provamos isto, no início de nossa colonização onde a relação comercial é de puro escambo, uma forma vergonhosa de negociação, onde um espelho, aguardente e outros badulaques são dados em troca da mata atlântica, das ervas medicinais, da noética vida adâmica dos brasis que dançavam ao sol e cantavam solenemente sob os mistérios da lua.
Face ao perigo da concorrência de invasões de seus vizinhos estrangeiros, os portugueses buscaram a valorizar suas colônias, ou seja, subjugá-las com mais controle e maior centralização de poder europeu. Então surge uma expansão econômica da circulação de mercadorias, como venho a demonstrar, por uma ocupação de complementação produtiva, onde circulação e produção de atividades coexistem como economias complementares em direção a um centro de decisão: A COROA PORTUGUESA.
Somos, somente através do poder real português, fornecedores de produtos de tudo que houvesse em nossa terra (a terra que tudo dá, conforme a carta de Pero Vaz de Caminha), para satisfazer ao mercado externo português em sociedade com os holandeses, pois neste momento seu comércio desenvolveu dirigido pelos judeus, expulsos de Portugal e Espanha, pela Santa Inquisição aliada a seus Reis.
A presença da Igreja é interessante, também como ideal eurocêntrico, pois participou na expulsão árabe da península ibérica e como a realeza portuguesa vivia esmagada entre a disputa de poderes da nobreza de um lado e da classe administrativa de outro lado, a Igreja se aliou à Realeza, como um terceiro poder, fortalecendo-a e tornando-a imbatível.
Acontece que a economia européia, diante da crise do feudalismo, necessitava de muita concentração de poder e mais do que antes, de um acúmulo de capital e este acima de tudo de um espaço cada vez maior de dominação. Imaginem tudo isto somado ao procedimento europeu de poder através do eixo centro-periferia.
Assim a colônia se transforma em uma refém da metrópole, para a acumulação de capital dentro de um sistema colonialista e mercantilista. Comprova-se assim, o ideal econômico português que não difere do ideal centro-europeu, de exploração total com um caráter centro-periferia.
Não confundamos a colonização americana do norte, como outra espécie de sistema colonial, pois na verdade devemos considerar como resultado de uma crise interna dentro da Europa, devido aos desajustes político-religiosos ocorridos durante séculos, assim como posteriormente ao desarranjo social provocado pela Revolução Industrial. Como colonização de povoamento escapou quando pode de uma intervenção direta da metrópole. De outra forma, no caso da Inglaterra, a imigração inglesa, foi um suportável alívio, face aos excedentes de mão de obra nas cidades inglesas, provenientes destas crises.
Porém, todos nós conhecemos a dominação inglesa no resto do mundo e não cabe a nós aqui, nos determos nesta questão eurocêntrica, uma vez que o enunciado está preso ao nosso modo vivendus brasileiro de ser. Esta análise fenomenológica de nossa sociedade, com o olhar sempre se voltando para a Europa como se fosse superiora a nós, está provada nesta dissertação, como origem numa formação cultural com milênios de existência, que vem se processando desde os antigos gregos até a formação de nosso país, após a invasão de Cabral em 22 de Abril de 1500, prevalecendo com outras matizes nos dias atuais.

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MAÇONARIA E SEUS RITOS

MAÇONARIA E RITOS

SUMÁRIO

1 - A Influencia dos Ritos em Lojas ..............................XX

2 – Os Ritos Praticados no Brasil ..................................XX

3 - A Eternidade dos Ritos e sua Flexibilidade ............XX

4 - A Maçonaria e a Revolução do Pensamento ..........XX

5 - A Maçonaria e o Iluminismo ...................................XX

6 – Maçonaria a Partir do Século XVIII .....................XX

7 - A Maçonaria Continua Viva ...................................XX

8 - Conclusão


1 - A Influência dos Ritos em Loja

Uma discussão freqüente no meio maçônico é se nosso rito, em particular o Escocês Antigo e Aceito, continua íntegro ou está contaminado, por isso decidimos aprofundar um pouco esse tema, começando por definir o que é um rito:

Conceituamos rito como sendo um cerimonial próprio de um culto ou de uma sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia e, por extensão, designa culto, religião ou seita.

Um Rito deve ter conteúdo que consagre algumas exigências bem conhecidas: o símbolo do Grande Arquiteto do Universo, o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso sobre o altar dos juramentos, sinais, toques, palavras e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus. Não há nenhum órgão internacional para reconhecer ritos. Acima do 3º Grau, cada Rito estabelece sua própria doutrina, hierarquia e cerimonial.

Maçonicamente é a prática de se conferir a Luz Maçônica a um profano, através de um cerimonial próprio. Em seiscentos anos de Maçonaria documentada, uma imensidade de ritos surgiu. Mas, de 1356 a 1740, existiu um rito apenas, ou melhor, um sistema de cerimônias e práticas, ainda sem o título de Rito, que normatizava as reuniões maçônicas.

Cada rito possui detalhes peculiares. A linha maçônica doutrinária, em cada Rito, deve ser contínua, dos graus simbólicos aos filosóficos. Cada Rito é uma Universidade doutrinária.

2 - Os Ritos praticados no Brasil

Existem muitos Ritos Maçônicos praticados em todo o mundo. No Brasil, especificamente, são praticados seis, alguns deles reconhecidos e praticados internacionalmente e outros com valor apenas regional. São eles, o Rito Schröeder ou Alemão, o Rito Moderno ou Francês, o Rito de Emulação ou York (o mais praticado no mundo), o Rito Adonhiramita, o Rito Brasileiro e o Rito Escocês Antigo e Aceito (o mais praticado no Brasil) do qual comentaremos, pois se trata do praticado em nossa Loja.

O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, Começou a nascer na França, quando Henriqueta de França, viúva de Carlos I, decapitado em 1649, por ordem de Cromwell, aceitou do Rei Luís XIV asilo em Saint-Germain-en-Laye, para lá se retirando com seus regimentos escoceses e irlandeses e os demais membros da nobreza, principalmente escocesa, que passaram a trabalhar pela restauração do trono, sob a cobertura das Lojas, das quais eram membros honorários, o que evitava que os espiões de Cromwell pudessem tomar conhecimento da conspiração. Consta que Carlos II, ao se preparar para recuperar o trono, criou um regimento chamado de Guardas Irlandeses, em 1661. Esse regimento possuía uma Loja, cuja constituição dataria de 25 de março de 1688 e que foi a única Loja do século XVII cujos vestígios ainda existem, embora os stuartistas católicos devam ter criado outras Lojas. O termo "escocês", já a partir daquela época, não designava mais uma nacionalidade, mas o partido dos seguidores dos Stuarts, escoceses em sua maioria. Assim, após a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, existiam na França dois ramos maçônicos: a Maçonaria escocesa e stuartista, ainda com Lojas livres, e a inglesa com Lojas ligadas à Grande Loja. A Maçonaria escocesa, mais pujante, resolveu, em 1735, escolher um Grão-Mestre, adotando o regime obediencial, o que levaria à fundação da Grande Loja da França (Grande Oriente de 1772), embora esta designação só apareça em 1765. O escocesismo, na realidade, só se concretizou com a introdução daquilo que seria a sua característica máxima, os Altos Graus, através de uma entidade denominada "Conselhos dos Imperadores do Oriente e do Ocidente". Este Conselho criou o Rito de Héredom, com 25 graus, o qual, incorporado ao escocesismo, deu origem a uma escala de 33 graus, concretizada do primeiro Supremo Conselho do Rito em todo mundo. O REAA, por ter sido um rito deísta, não foi unanimemente aceito nos países onde predominavam as Igrejas Evangélicas e vicejou mais nos países latinos onde predomina o Catolicismo. É necessário explicar que atualmente o caráter deísta do Rito Escocês Antigo e Aceito misturou-se ao teísmo, sendo que este acabou sendo predominante. O REAA tem o mesmo forte caráter teísta do Rito de York.

3 - A Eternidade dos Ritos e sua Flexibilidade

A Maçonaria é uma instituição que objetiva a felicidade humana e o aprimoramento moral e ético, dentro das leis do amor, da solidariedade, da lealdade, da fraternidade, da igualdade e da liberdade, que engloba uma visão holística no universo das fronteiras dos credos, das nações e povos.
Este procedimento que vem através dos séculos, se perpetua neste terceiro milênio, se amplia e torna-se protótipo de sociedade humana, num mundo globalizado, ensinando a aprender saber, aprender fazer, aprender relacionar-se e aprender a ser.
Assim, ela se suste nos Landmarks e nos Ritos, porque eles são eternos, não pelo fato de serem dogmáticos, mas acima de tudo, porque por inspiração divina, vieram à luz com as leis perpétuas da flexibilidade, da maleabilidade e da arte dialógica. Esta também é uma forma de arte real, porque funciona na engrenagem da dialética, na tríade da tese, antítese e síntese e assim subsequentemente até atingir ao mais alto grau de perfeição. É como o dom do ouro, que pelo fato de ser dúctil, maleável e flexível, nos permite lapidar jóias e ornamentos do mais excelso valor.

4 - A Maçonaria e a Revolução do Pensamento

Desta forma, a partir do momento em que se ocorrem grandes revoluções no pensamento humano, torna-se mister que se reinterpretem os novos dados significativos, uma vez que a própria física quântica transcende a física de Newton, sem maculá-la e nem abandona o fundador da ciência moderna, Galileu Galilei, do séc. XVII, com sua assertiva de que a leitura do universo se faz pelos caracteres geométricos, e inclusive, avançando mais, no interior deste raciocínio filosófico, o homem não perde sua essência, pela decorrência do avanço da genética, ou da tecnologia de ponta, mudando costumes e ampliando ramos de comunicação.
Imaginemos num passeio histórico, que a Maçonaria avança pelos séculos desde os legendários Cavalheiros Templários, sem perder o conteúdo de sua magia, sem derramar a taça do Santo Graal e sem perder a arte cavalheiresca de seus antigos costumes. Recordemos por exemplo, a época do próprio cientista Galileu citado acima, inaugurando um novo tempo para a humanidade. Com certeza, isto só foi possível com a colaboração dos irmãos invisíveis daquela época, que já trabalhavam em silêncio para abrir novos caminhos e possibilidades para o ser humano.
Vejamos que a tarefa de Galileu não era simples e nem fácil. Ele teve que derrubar o antigo paradigma da ciência, que se baseava nas idéias de Aristóteles, sustentadas pelos dogmas da Igreja Católica de sua época. Era necessário que ele provasse que a Terra era realmente arredondada e que ele colocasse abaixo todo o cosmo aristotélico, de que a Terra era o centro do universo, imóvel e que o mundo supra lunar era perfeito e intocável, enquanto o mundo sublunar era imperfeito. Galileu prova que a Terra é esférica, se move no espaço, não é o centro do universo, que aqui também há leis fundamentais, como a lei do pêndulo, da queda dos corpos no espaço, do início da questão gravitacional, inclusive provando com seu tosco telescópio que a lua, tinha montanhas e vales, com sombras e picos iluminados pelo sol. Todo este trabalho foi possível, devido às grandes idéias dos pré-modernos, anteriores a Descartes, contemporâneos e antes também, de Copérnico, de Kepler que provou que as órbitas celestes são elípticas.
Todo este trabalho foi possibilitado pelos nossos irmãos do passado, que nem sequer ainda eram chamados de maçons, como o caso de Giordano Bruno, queimado vivo por suas idéias a respeito de um universo infinito, gravitacional e cheio de planetas.
Chamamos a este tempo, de um grande período de transformação da humanidade, sendo também que colocamos as Grandes Navegações do século XV e do século XVI, na mesma caravela de mudanças, encorajada também por nossos irmãos do passado, pois as cruzes de malta que estampavam as caravelas são emblemas antigos de um período de nossa sociedade, que continua viva até hoje, porém da forma em que estamos agora, pois sabemos que os Cavaleiros de Cristo que carregavam a cruz de malta, nada mais eram, que os mesmos cavaleiros templários esmagados séculos antes, mas que agora encontraram em outra alegoria, uma nova forma de sobreviver e lutar por seus nobres ideais.
Época em que se debatem idéias antagônicas, como o teocentrismo em face do recente antropocentrismo, porém este último, baseado em novos conceitos, nas mãos dos cavaleiros reais, não jogou de lado a idéia de que o universo é posterior ao Ser, este Ser, mais do que necessário, mas provedor de toda a sabedoria universal, que é o Grande Arquiteto do Universo.
Relembramos que na segunda metade do século XVII, o que impera mesmo é o iluminismo rosacruz, que é o embrião da maçonaria especulativa, portanto, com inspiração hermética e rosacruz, sem perder o rito, cuja verdadeira origem é anterior à civilização latina, pois é sânscrita, vindo de rita, que significa ordem.
Mesmo que naquela época, não fosse chamada de Maçonaria e não tivesse ainda aberta nenhuma loja na Inglaterra ou França, ela sobrevivia pelos atos dos pensadores livres e por uma necessidade também daquela época, de possuir sinais de identificação, toques, palavras secretas. Quantas vezes nós já ouvimos dizer, que Leonardo Da Vinci escrevia textos com um código secreto e que também Galileu o fazia. Todos sabemos que os rosacruzes escreviam em um alfabeto próprio. Portanto a Sagrada Ordem não se retrai em seus conceitos, mas os expande como faróis, em um mundo cada vez mais transformador.

A Instituição maçônica não abandonou seu foco de trabalho, pois se inaugurássemos uma nova ciência, uma espécie de hermenêutica dos ritos, compreenderíamos cada leitura ou releitura inclusa em suas devidas épocas. Sabemos que o desejo da verdade é um sentimento que nos aflora desde a infância. Desde pequenos perguntamos aos nossos pais, porque isto é assim, porque aquilo é daquela forma e somos pesquisadores das coisas que nos rodeiam. Buscamos a compreensão de que tudo é realmente como as pessoas nos informam e somos muito sensíveis aos enganos e mentiras. Está dentro da alma humana a fagulha divina da percepção do mundo. Quando adultos, desenvolvemos ainda mais esta capacidade de buscar a verdade e a resposta às nossas inquietações. Se perguntarmos a todos os maçons aqui presentes, se eles têm alguma dúvida de seu caminho, de suas iniciações, de seu trabalho social, de suas expectativas diante de suas reuniões templárias, todos com certeza afirmarão positivamente que estão muito satisfeitos e com plena consciência de que têm galgado uma evolução espiritual no caminho maçônico. -Quer prova mais evidente do que esta, que nós não abandonamos a essência primordial? Por que esta resposta não vem de seus lábios e sim do mais profundo de vossos corações? Por que nossos atos são sinais de nossas identificações?
Qual é no fundo o sentido principal da busca da verdade? O sentido reside prioritariamente a entendermos com a razão e o coração, o que é o mundo que nos rodeia e quem realmente somos nós, de onde viemos como seres humanos, qual nossa verdadeira missão aqui na Terra e para onde iremos?
Enfim, queremos ser felizes, não termos dúvidas, trabalharmos para o bem e encontrar um sentido para a nossa existência. Nossos ritos nos dão tudo isto e basta vivê-los para compreendê-los. Eles não perderam a noção da senha secreta dos mistérios mais intrínsecos do universo, embora se adaptem em sua natureza externa, eles se coadunam e se correlacionam com as necessidades mais importantes do ser humano.
A nossa sociedade profana não traz condições com suas instituições para complementar tal obra no coração humano. Por mais que a escola se redefine e se reoriente, ela está aquém deste trabalho. Mesmo as instituições religiosas não conseguem atende-lo plenamente, por mais louváveis que sejam,porque elas têm seus dogmas próprios, o que é justo e respeitável. Mas a maçonaria possui as chaves secretas da leitura dos símbolos e enigmas pendurada em um chaveiro universal. O chaveiro pode até mudar em alguns aspectos de seu design, mas as chaves não mudam seus sulcos e estão sempre prontas para abrir os portais dos mistérios.
A nossa consciência é uma verdade sem dúvida e tudo aquilo que nossa consciência aceita como provável após o jogo lúdico da experiência seqüencial, não deixa fresta para incertezas.
A pergunta inicial desta tese merece um aplauso de toda a platéia. Muitas vezes as perguntas são mais importantes que as respostas. Mas uma pergunta de tal magnitude merece uma resposta à sua altura e este é o exercício que estamos fazendo com profunda reflexão nesta tese.
Os ritos não se desviaram dos seus caminhos iniciais, porque eles ainda ultrapassam as barreiras do dogmatismo. O dogmatismo é uma atitude que nos acompanha desde crianças. É aquela crença de que o mundo existe como tal o conhecemos. Se não fosse a dúvida ou estranhamento de muitos pensadores, estaríamos ainda no período paleolítico. Foi o fato de não aceitarmos todas as opiniões e crenças comuns da sociedade e inclusive de nossas próprias idéias, que nos fez chegar à era robótica em que estamos. - Que seria da humanidade se acreditasse apenas no fenômeno? Imaginem o homem que somente crê no que vê. Como é pobre a vida deste homem. É necessário redobrarmos ao que está por detrás do fenômeno. Eu vejo o mundo, mas o que é que está por detrás de cada coisa que vejo? Só quem se debruça sobre a leitura dos símbolos, é que consegue atingir tal plenitude. E não podemos negar que todos estes símbolos ainda estão presentes em todos os templos maçônicos justos, perfeitos e regulares.
Além do mais, uma forma de ser dogmática, ela é ultra conservadora e tem medo de mudanças. Olhem, a Maçonaria é pesquisadora, expansiva e não combate as mudanças que trazem benefícios à humanidade. Todas as nossas lojas são assim e aprendemos assim em nossos ritos. Nós queremos fraternidade, liberdade e igualdade, porque evoluímos sem perder a consciência original.
A idéia que nossa sociedade ocidental tem sobre verdade, foi produzida por três culturas entrelaçadas em nós e presentes em todos os nossos templos maçônicos. Vamos verificar cada uma delas. Em grego, verdade é aletheia, que significa aquilo que não está oculto, que não se encontra escondido, que não se dissimula. Resta-nos então tudo o que aparece realmente e se compreende com facilidade pelo nosso espírito. O falso, seria o pseudos, o que está encoberto, escondido, o que parece que é, mas na verdade não é. Quem conhece algo que experimentou realmente como verdadeiro, não tem dúvida alguma.
Em latim, verdade é veritas, e tem muita relação com o que se relata, se diz, muito próprio dos réus perante os tribunais. Depende da memória, dos valores morais e éticos dos relatos.
Em hebraico, verdade é emunah e significa confiança. Tem a ver com a promessa de que aquilo que nos disseram é realmente como nos prometeram. É buscar um Deus verdadeiro, onde se deposita esperança e confiança. Portanto, se em grego verdade corresponde às coisas como são, em latim, veritas corresponde aos fatos como realmente foram e em hebraico, emunah, de que temos confiança e esperança naquilo que fazemos.
Os nossos ritos maçônicos continuam a se correlacionar com as essências primordiais do universo, sem perder os fatos delas mesmas e sem menosprezar a confiança e esperança no que estamos realizando. Então, eles são perfeitamente verdadeiros.

5 - A Maçonaria e o Iluminismo

Passam-se os séculos e uma grande reviravolta acontece no século XVIII, com a chegada do Iluminismo. Este movimento jamais teria tido sucesso algum, se não tivesse existido a Maçonaria. Só que neste momento, foi possível a abertura de lojas em diversas cidades européias, porque justamente era uma nova etapa da Humanidade. Surgem nomes como Jean Jacques Rousseau, Voltaire, Dalembert, Diderot, Montesquieu entre outros, que com certeza se alguns não foram maçons, todos foram influenciados pelo pensamento maçônico.
O lema da Revolução Francesa era Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que são os mesmos da Maçonaria. Alguns despreparados e incautos do século XVIII, poderiam até dizer que os pensadores livres estavam se desvirtuando de seus princípios e que estavam contaminados. Só por não perceber a realidade sócio-política daquela época, onde a necessidade prioritária era a derrubada dos antigos regimes europeus, da libertação das Américas, do fim da escravidão e do assentamento de repúblicas democráticas sobre a face da Terra, que ficou realmente a cabo dos maçons e não dos críticos desinformados.
Nesta antiga maçonaria, relembremos do irmão Francisco Miranda, venezuelano, iniciado por George Washington, que proclamou com Thomas Jefferson e centenas de outros maçons, a independência dos EUA.
Nosso irmão Miranda, continuando os ideais de seu padrinho maçom, iniciou centenas de maçons latino-americanos, providenciando assim a libertação total de toda a América Espanhola. Só para ilustração desta tese, cito nomes como O’Higgins, libertador do Chile, assim como de Simon Bolívar e San Martin, os grandes libertadores, que saíram da grandeza de seu malhete num juramento e numa consagração.
No Brasil, José Bonifácio, iniciado na Europa, D.Pedro I, iniciado no Rio inauguram uma nova época com centenas de outros maçons, pela Independência do Brasil. Este processo culmina no final do século XIX, com a libertação dos escravos e a proclamação da república.
Em todo este período, a Maçonaria se adequou à época, sem desrespeitar ou fugir de seus princípios básicos e sem afastar de seus divinos mistérios e de sua linguagem hermética.
A Maçonaria não é estática, pelo contrário, ela é dinâmica e não se subtrai a um dogma, apenas coloca ritos e símbolos para que o homem os apreenda e perceba. Sendo que cada ser humano é fruto de uma cultura, de um espaço geográfico e de um tempo histórico, cabe a cada um, ao seu modo, extrair destes símbolos e alegorias suas interpretações e seus significados.

6 – Maçonaria a Partir do Século XVIII

Desde quando houve a grande Revolução Industrial no século XVIII, onde o homem deixa um pouco do trabalho manual, para o trabalho operatório das máquinas, em que o mundo sofre pelo impacto das grandes transformações sociais que advém, da transição para uma sociedade fabril, os maçons estão presentes com suas idéias de liberdade, fraternidade e igualdade, se amoldando neste mundo, conforme a linguagem que ele necessita naquele momento.
Um século depois, no alvorecer das luzes do século XX, com as grandes transformações dando início a grandes invenções como a descoberta da luz elétrica, do nascimento da indústria automobilística, do cinema, do telégrafo, do rádio, das linhas férreas, etc., a Maçonaria está também presente, conforme este período histórico.
Observa-se que neste momento são enunciadas duas grandes teses revolucionárias, sendo uma delas a descoberta do inconsciente por Freud e a elaboração da Teoria da Relatividade, por Einstein.
Foram os maçons, os primeiros a compreenderem estas novas idéias científicas, visto que seus estudos de símbolos, mistérios e suas práticas rituais, lhes abriam canais mais férteis para perceberem idéias que já eram correlatas com estudos cabalísticos dentro das lojas maçônicas.
Nestes momentos, a Maçonaria avança e pode até parecer para muitos que não estão atentos, que ela esteja se desviando ou se contaminando, por não compreenderem que no templo maçônico, encontram-se germes atômicos de muitas descobertas que ainda serão colocadas em prática pela humanidade.
Isto comprova que a Maçonaria não transmutou a idéia dos arquétipos fundamentais do Cosmo, como por exemplo, o estudo numérico, o conhecimento da cabala, as figuras geométricas como o triângulo, o círculo, o quadrado, o retângulo, que correspondem a princípios ou formas simbólicas correspondentes dos modelos cósmicos.
Tão prova que ela hoje não segue a erguer edifícios que representassem o modelo material do universo, mas transmuta ao entalhar na pedra bruta do ego humano a formosura da pedra polida do homem primordial, sem abandonar os códigos fundamentais dos antigos construtores e mantendo em guarda as práticas de identidade dos sagrados mistérios.

7 - A Maçonaria Continua Viva

Quando o (profano\neófito)iniciado bate à porta do Templo, sem seus metais, inclusa também está sua nudez de suas crenças restritas, de suas opiniões políticas, de suas teses filosóficas, para que no âmago do templo, encontre na luz de sua claridade, o veículo da universalidade, que não o deixe contaminar com o procedimento humano egoísta, unilateral e pessoal, pois está alicerçada em pleno século XXI, na coluna dorsal flexível dos Landmarks e dos Ritos.
A Maçonaria não se contaminou e continua viva, basta observarmos os próprios graus de aprendiz, companheiro e mestre e suas correlações com antigas práticas iniciáticas correspondentes ao corpo, alma e espírito universal, sendo a resultante da formação do cosmo e do espírito universal, que é o mesmo caminho evolutivo da árvore cabalística, desde o reino de Malcuth em direção a Kether e o que importa é a essência contida neste rito e não a sua pura singularidade.
Portanto, a Maçonaria não perde a profundidade da realização da antropogênesis num rito cosmogônico, para dar origem a uma nova criatura, a um novo ser, não importando a variação do rito em si, desde que não se perca o sentido espiritual da idéia maçônica.
A Maçonaria continua a renovar o homem em suas lojas, pois ele é o objeto central da criação, e que através dos ritos poderá compreender sua essência e seu destino, através de seus caminhos, suas marchas, seus toques, sinais, graus, alegorias, palavras de passes, viagens, etc. alcançar níveis mais elevados que os da vibração material, sendo esta a única realidade que não poderá ser perdida e que está acima dos mecanismos e das práticas ritualísticas.
O universo é muito imenso para compreendê-lo de uma vez só. Não é esta a intenção maçônica e nem trabalha com este fim, porque ela não se desviou de seus princípios. Tudo acontece passo a passo, grau a grau, aprendendo-se através de símbolos visuais, sonoros e gestuais a conhecer-se a si mesmo, que é a maneira mais correta de conhecer o universo. Com esta atitude, recorremos a um conhecimento socrático, do grande mestre de Atenas, do século VI a.C., sem perder sua fidelidade, pelo fato de se adaptar à época em que vivemos, pois conservamos o conteúdo espiritual.
Não é idéia da Maçonaria, transformar-se num museu de relíquias alienadas das necessidades humanas, portanto ela é ativa e atual, sem abandonar os códigos simbólicos e a tradição hermética.
Todos sabemos que a concepção de mundo de nossa sociedade ocidental, se origina em muito dos antigos gregos, principalmente Platão e Pitágoras e que estes se iniciaram nos mistérios de Thot – Hermes (mistérios do conhecimento) do Antigo Egito, que ainda era contemporâneo em seu tempo. O Antigo Egito também foi o berço de Moisés e da sociedade judaica, portanto nossa cultura é greco-judaico-cristã, cujo pano de fundo está no Antigo Egito, que é a mesma raiz da Maçonaria como um todo, que embora a variedade e releitura dos ritos, não perdeu suas essências originais.
Hoje, com o conhecimento que temos, sabemos que já não há apenas um universo, mas que existem universos múltiplos, como por exemplo, o que já se tornou habitual o discurso sobre planos paralelos, o que mostra um momento de grandes mudanças no pensamento científico. Assim, a Maçonaria não se deixa ultrapassar por seu tempo e nem se atropelar pela evolução necessária da humanidade, por isto, se adequa e se sobressai, sem deixar de ser a lendária depositária dos mistérios antigos.

8 – Conclusão

A Instituição maçônica não abandonou seu foco de trabalho, pois se inaugurássemos uma nova ciência, uma espécie de hermenêutica dos ritos, compreenderíamos cada leitura ou releitura inclusas em suas devidas épocas. Sabemos que o desejo da verdade é um sentimento que nos aflora desde a infância. Desde pequenos perguntamos aos nossos pais, porque isto é assim, porque aquilo é daquela forma e somos pesquisadores das coisas que nos rodeiam. Buscamos a compreensão de que tudo é realmente como as pessoas nos informam e somos muito sensíveis aos enganos e mentiras. Está dentro da alma humana a fagulha divina da percepção do mundo. Quando adultos, desenvolvemos ainda mais esta capacidade de buscar a verdade e a resposta às nossas inquietações. Se perguntarmos a todos os maçons aqui presentes, se eles têm alguma dúvida de seu caminho, de suas iniciações, de seu trabalho social, de suas expectativas diante de suas reuniões templárias, todos com certeza afirmarão positivamente que estão muito satisfeitos e com plena consciência de que têm galgado uma evolução espiritual no caminho maçônico. -Quer prova mais evidente do que esta, que nós não abandonamos a essência primordial? Por que esta resposta não vem de seus lábios e sim do mais profundo de vossos corações? Por que nossos atos são sinais de nossas identificações?
Qual é no fundo o sentido principal da busca da verdade? O sentido reside prioritariamente a entendermos com a razão e o coração, o que é o mundo que nos rodeia e quem realmente somos nós, de onde viemos como seres humanos, qual nossa verdadeira missão aqui na Terra e para onde iremos?
Enfim, queremos ser felizes, não termos dúvidas, trabalharmos para o bem e encontrar um sentido para a nossa existência. Nossos ritos nos dão tudo isto e basta vivê-los para compreendê-los. Eles não perderam a noção da senha secreta dos mistérios mais intrínsecos do universo, embora se adaptem em sua natureza externa, eles se coadunam e se correlacionam com as necessidades mais importantes do ser humano.
A nossa sociedade profana não traz condições com suas instituições para complementar tal obra no coração humano. Por mais que a escola se redefine e se reoriente, ela está aquém deste trabalho. Mesmo as instituições religiosas não conseguem atende-lo plenamente, por mais louváveis que sejam,porque elas têm seus dogmas próprios, o que é justo e respeitável. Mas a maçonaria possui as chaves secretas da leitura dos símbolos e enigmas pendurada em um chaveiro universal. O chaveiro pode até mudar em alguns aspectos de seu design, mas as chaves não mudam seus sulcos e estão sempre prontas para abrir os portais dos mistérios.
A nossa consciência é uma verdade sem dúvida e tudo aquilo que nossa consciência aceita como provável após o jogo lúdico da experiência seqüencial, não deixa fresta para incertezas.
A pergunta inicial desta tese merece um aplauso de toda a platéia. Muitas vezes as perguntas são mais importantes que as respostas. Mas uma pergunta de tal magnitude merece uma resposta à sua altura e este é o exercício que estamos fazendo com profunda reflexão nesta tese.
Os ritos não se desviaram dos seus caminhos iniciais, porque eles ainda ultrapassam as barreiras do dogmatismo. O dogmatismo é uma atitude que nos acompanha desde crianças. É aquela crença de que o mundo existe como tal o conhecemos. Se não fosse a dúvida ou estranhamento de muitos pensadores, estaríamos ainda no período paleolítico. Foi o fato de não aceitarmos todas as opiniões e crenças comuns da sociedade e inclusive de nossas próprias idéias, que nos fez chegar à era robótica em que estamos. - Que seria da humanidade se acreditasse apenas no fenômeno? Imaginem o homem que somente crê no que vê. Como é pobre a vida deste homem. É necessário redobrarmos ao que está por detrás do fenômeno. Eu vejo o mundo, mas o que é que está por detrás de cada coisa que vejo? Só quem se debruça sobre a leitura dos símbolos, é que consegue atingir tal plenitude. E não podemos negar que todos estes símbolos ainda estão presentes em todos os templos maçônicos justos, perfeitos e regulares.
Além do mais, uma forma de ser dogmática, ela é ultra conservadora e tem medo de mudanças. Olhem, a Maçonaria é pesquisadora, expansiva e não combate as mudanças que trazem benefícios à humanidade. Todas as nossa lojas são assim e aprendemos assim em nossos ritos. Nós queremos fraternidade, liberdade e igualdade, porque evoluímos sem perder a consciência original.
A idéia que nossa sociedade ocidental tem sobre verdade, foi produzida por três culturas entrelaçadas em nós e presentes em todos os nossos templos maçônicos. Vamos verificar cada uma delas. Em grego, verdade é aletheia, que significa aquilo que não está oculto, que não se encontra escondido, que não se dissimula. Resta-nos então tudo o que aparece realmente e se compreende com facilidade pelo nosso espírito. O falso, seria o pseudos, o que está encoberto, escondido, o que parece que é, mas na verdade não é. Quem conhece algo que experimentou realmente como verdadeiro, não tem dúvida alguma.
Em latim, verdade é veritas, e tem muita relação com o que se relata, se diz, muito próprio dos réus perante os tribunais. Depende da memória, dos valores morais e éticos dos relatos.
Em hebraico, verdade é emunah e significa confiança. Tem a ver com a promessa de que aquilo que nos disseram é realmente como nos prometeram. É buscar um Deus verdadeiro, onde se deposita esperança e confiança. Portanto, se em grego verdade corresponde às coisas como são, em latim, veritas corresponde aos fatos como realmente foram e em hebraico, emunah, de que temos confiança e esperança naquilo que fazemos.
Os nossos ritos maçônicos continuam a se correlacionar com as essências primordiais do universo, sem perder os fatos delas mesmas e sem menosprezar a confiança e esperança no que estamos realizando. Então, eles são perfeitamente verdadeiros.

DESVIOS DO PENSAMENTO RACIONAL

Observando os níveis de desespero em que vive a atual sociedade mundial, facilmente compreendemos que houve um sério desvio do uso da razão no curso do desenvolvimento da humanidade. A palavra razão vem do grego logos, que por sua vez vem do verbo legein, que se encontra no campo das cotidianas atividades matemáticas. Posteriormente no latim, encontramos a palavra ratio, originada do verbo reor, que significava também no dia a dia dos filhos de Lácio, as suas práticas matemáticas.
Então a razão já nasceu desde sua origem, afastada por completo da doxa, ou mera opinião; como atividade do intelecto em contraposição à alteridade dos sentimentos emotivos e cegos; da conquista do conhecimento através de um método científico e não pela ação simples da fé; como consciência que tem consciência de si e domínio deste campo, indiferente ao fluídico estado do êxtase místico, mas vamos ver até onde está a sua distinta realidade.
Seus fundamentos obedecem a princípios bem estruturados como: a)princípio da identidade, onde afirmo e comprovo que X = X, ou se, por exemplo, cheguei à conclusão de que o círculo delimitado pela circunferência é uma forma geométrica tal como é, com 360º e que não há outra forma geométrica assim que não seja o próprio círculo; b)princípio da não-contradição, ou seja, se A = A, ele não pode ser ao mesmo tempo igual e diferente de A, ou em palavras mais simples que o hexágono tenha e não tenha seis lados e seis ângulos, que são coisas que fogem ao pensamento; c)princípio do terceiro excluído, por exemplo, B é X ou é Z, sem que haja outra instância, pois apenas uma das alternativas é a verdadeira; ou aquele carro lá longe no estacionamento é seu ou é de outra pessoa; d)princípio da razão suficiente ou princípio da causalidade, pois a razão encontra razão para tudo que existe, uma vez que tudo está entrelaçado numa rede de relações.
Mas será que a razão está realmente tão bem assim fundamentada? Seria bom encontrarmos uma dedução mais segura para esta dúvida, pois o teorema acima possui sérias rachaduras no corpo do seu edifício. Já dizia Blaise Pascal: “o coração tem razões que a própria razão desconhece.” A partir de meados do século XIX muitos avanços do pensamento científico provaram o enfraquecimento desta tese sobre a razão. A própria questão atômica mesmo, prova a fraqueza do terceiro excluído, pois a teoria atômica também se explica pela teoria das cordas e a física no campo da óptica explica a luz tanto por ondas luminosas quanto por partículas descontínuas. Voltando à questão atômica é totalmente impossível prever a complexidade e o efeito dos movimentos atômicos, pois podem ser tanto de uma forma como de outra forma. Como a ciência encaixa sempre uma teoria diante de cada realidade a descoberto, fala-se em um novo princípio, ou seja, princípio da indeterminação, onde a razão só adquire suficiência quando abarca fenômenos macros, mas não alcança solidez quando se trata de objetos além da microscopicidade do mundo. Outro golpe na razão vem da teoria da relatividade einsteiniana, o que nos deixa órfãos de validez ôntica, se pensar que o valor de PI pode não ser o mesmo em outra galáxia e assim por diante. Assim também no campo da linguagem eu posso dizer que o Japão está agora vivendo ao meio dia e à meia noite, sendo que ele está num planeta nestas condições. Também no estudo de outros povos e culturas, não é possível mantermos este procedimento europeu sobre a razão. Por exemplo, se estudarmos a estrutura da língua e da religião dos incas, astecas, toltecas, maias, tupis, guaranis, etc. perceberemos que não tem muito a perder para a estrutura lingüística dos antigos gregos por exemplo. Nisto entra também a questão dos mitos e não podemos afirmar que nossos mitos indígenas são atrasados ou fazem parte do pensamento sintético do homem da idade da pedra, pois eles não tem nada a perder para a explicação teológica do cosmos, que encontramos a partir das primeiras páginas de nossos livros religiosos. Quem assistiu ao recente filme AVATAR compreenderá a insignificância do culturecentrismo no choque entre povos, onde um detém um maior poder tecnocrático, no caso o povo invasor.
Outro poderoso golpe no seio da razão, foi a idéia da psicanálise iluminada por Freud. Violenta pancada que abala os alicerces da afirmativa de Descartes: Cogito ergo sum, ou penso logo existo, quiçá minha existência seja à medida de meu pensamento. Idéia talvez mal digerida pelo nobre René Descartes, quando no colégio jesuíta de La Flèche, no Anjou, aprendeu filosofia e teologia, segundo a Ratio Studiorum daquela época; ao se debruçar inutilmente sobre os fragmentos do poema de Parmênides sobre o caminho do ser e o caminho do não-ser, ou do nada, em que induz que pensar e ser se mesclam na mesma identidade.
Freud criou um sistema metapsicológico teórico uma espécie de topografia hipotética do aparelho psíquico, com suas vibrações específicas delimitadas em consciente, pré-consciente e inconsciente, onde estão localizados o id, o ego e o superego, que não cabe neste momento explicá-los, mas que basta pela sua validade e autenticidade provar a inércia do pensamento cartesiano sobre a razão. O inconsciente não é o oposto do consciente, mas a maior parte de nosso ser do qual o consciente é apenas uma ilha no oceano do inconsciente, parte esta da qual possuímos sequer conhecimento. O inconsciente não tem cronologia, está além do tempo e de espaço; está ausente do conceito de contradição e duas coisas contrárias podem se reafirmar categoricamente e simultaneamente; possui uma linguagem simbólica; equaciona valores tanto para a realidade interna como externa e obedece ao predomínio do princípio do prazer. Então pensar que a razão está tão a par de nós é de uma infantilidade boçal, uma vez que não temos todo o conhecimento de nós como pensamos, inclusive antropologicamente e historicamente.
Finalmente será difícil sustentar que nossa sociedade é tão racional como se imagina e doloroso saber que classificamos de irracionais a outras sociedades, principalmente aqui no Brasil onde destruímos as culturas arcaicas e escravizamos a cultura negra. A razão encontrou em si mesmo uma artimanha para encobrir a realidade, para esquartejar a natureza, para explorar o trabalhador, para justificar a exploração do outro, para expandir a alienação. Ela foi bem fundo no reino da linguagem, da tecnologia, das ciências, do afastamento do homem do objeto, como se o homem fosse uma coisa e a natureza outra coisa diferente, dentro do campo cartesiano do RES COGITANS versus RES EXTENSA, como se houvesse uma dicotomia diaspórica entre alma e corpo, entre ser pensante e formas extensas. Assim, justifico como queria demonstrar no enunciado desvio da racionalização.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

GLOBALIZAÇÃO VISTA DE OUTRO ÂNGULO

GLOBALIZAÇÃO VISTA DE OUTRO ÂNGULO
Prof. José Luiz Teixeira do Amaral, FRC

Nesta questão, coloco se a globalização é um processo que se iniciou numa pós-modernidade ou se é um avanço a mais no curso da história ao longo do tempo. Olhando a tela do meu computador eu observo as oportunidades de maximizar e minimizar na instantaneidade de minha decisão.
Na minha opinião globalizar é maximizar minimizando. Obter o máximo possível de informações e relacionamentos no mínimo possível de tempo e espaço. À direita do site da Loja Monte Moriá aparecem como vagalumes transcendentes uma miríade de empresas fornecendo serviços e negócios, que somente num clique tê-los-ei imediatamente em minhas mãos, com a segurança de que são os melhores produtos do mercado, com os mais seguros selos de segurança, sem sair de casa! Estou maximizando minimizando!
Vou buscar em três expressões comuns a qualquer vivente, algumas bases para validar a afirmativa de que este movimento é antigo, assim como faz parte da natureza humana. São as seguintes: Há! OH! OM! Com a exclamação Há! Proclamo que existe o mundo. O mundo está aí diante de mim. Não tenho como negar o que existe. A temática do porquê, do onde, do como existe, já é outra pesquisa que teria de buscar desde os filósofos antigos das Escolas Jônica, Itálica, Eleática ou Plurática.
Até creio que a filosofia não tenha nascido com o espanto, mas com a condição de que Há! Esta condição foi fornecida pelas viagens marítimas dos povos antigos, que lhes permitiram perceber as diversidades culturais. Ao viajar por terras ou por mares, o homem percebeu o deslizar do tempo, que corre como uma folha ao vento, mas que não se esvai desloucadamente, pois contém uma cadência definida e calculada, porque HÁ! Se há vários povos, há possibilidades de troca, e se há esta condição, então há que se criar um símbolo que negocie valores mercantis, de onde nasce a moeda de cada povo, protótipo de uma futura moeda mundial.
Desenvolvem-se outras sociedades quando se intercambiam culturas e valores. Criam-se alfabetos como meio de comunicação e procuram-se caminhos pela polis e pelo ethos para conter os atritos que surgem entre os contrários, protótipo dos mercados comuns, que se fundirão num único mercado mundial.
OH! Eu existo, eu estou aqui no meio deste todo. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Esta experiência que veio também com os pré-socráticos, afirma-se valorosamente com Sócrates e amplia-se no existencialismo. Não deixa de ser um espanto diante da minha realidade e da realidade do mundo. Santo Agostinho chegou a perguntar “onde eu estava antes de existir?” Uma lástima é que não tenha levado tanto a sério esta pergunta ou outra seguinte como “onde estarei após existir?” Mas eu preferia perguntar solenemente: é possível não existir? Se não é possível não existir, somos agora, antes e depois toda a existência. Então não há porque se preocupar com este assunto, que diante da plena existência, torna-se perca de tempo ou pensamento vazio. Um protótipo de um ser universal e mais integrado e respeituoso com todos os outros seres e a natureza.
OM! Nesta expressão está a busca da realidade última. Nos livros sagrados do Oriente se afirma que tudo se iniciou em OM, nesta sílaba sagrada. No Evangelho de São João está sacramentado que no início é o Verbo. Que grande semelhança , não é?
OM! Engloba tudo. Vejo o mundo, estou no mundo, sou no mundo. O lance está aí: ser no mundo. Este é o caminho da mística, ou a trilha mais segura, que não leva a dúvida nenhuma, pois está porque sempre esteve. Protótipo da plena realização humana de todos os níveis até o mais alto nível espiritual.
A globalização é realmente um movimento gradual característico do ser humano. O ser humano precisa viver com o outro. Quer queira ou não, viver com o outro é um destino humano. O homem é um ser social. Não veio para viver sozinho.
Mesmo quando o homem era um caçador/ coletor andarilho na Idade da Pedra Lascada já estava neste processo globalizado. Seu contato com os frutos permitiu-lhe o toque mágico de perceber as estações do ano. Seu contato com as flores iniciou o alvorecer de sua espiritualidade. Seu contato com os animais selvagens possibilitou-lhe conseguir domesticar alguns, que não deixa de ser uma abertura para uma compreensão maior da vida. Seu contato com outras tribos nômades mudou-lhe valores. Uma prova está na Etapa da Pedra Polida.
Não cabe aqui, descrever todas as etapas do processo evolutivo humano, para não perdermos de vista o enunciado acima. Mas vamos pensar por exemplo em Alexandre Magno e suas conquistas. Se de um lado destruiu todo aquele mundo enigmático grego, que era um mundo fechado, por outro lado elas abriram fronteiras na alma humana, alcançando outros valores no contato com diversos povos.
Quer um processo mais globalizante que o desenvolvimento da cultura latina? Olhem, que estou escrevendo em português que deriva da língua latina. Somos uma sociedade greco-romana-judaico-cristã, e isto é muito pouco. Imaginem o português que veio para a América Brasileira. Que português foi este? Era um ser totalmente miscigenado. Era um europeu, meio árabe, meio judeu, meio africano, meio romano, meio grego, meio meio. Mas que bom, não é?
Vejam, que esta facilidade que o brasileiro tem em se adaptar a quaisquer circunstâncias vem desta globalização racial portuguesa. É sem dúvida uma ponte de salvação para todos nós. Principalmente quando estamos diante de governantes incompetentes que implodem a economia.
Assim maximizei em Há! Oh! Om! A nossa crescente globalização. Maximimizei minimezando em três espantos, o que não devíamos nos espantar nunca, pois a globalização é natural ao ser humano. O que cada sociedade não pode perder são seus vínculos profundos e seus símbolos permanentes. Mas é plenamente saudável globalizar. É o mais nobre destino humano.
Há! Oh! Om! Um triplice abraço!