terça-feira, 19 de julho de 2011

LADRÃO QUE NUNCA FOI LADRÃO

Extraido do meu livro LEMBRANÇAS DO OUTONO

Raul saiu apressadamente da padaria com um embrulho de pão e outro de leite. Rápido como um The Flash querendo superar o Eclesiastes ao ultrapassar o vento. Entrou rapidamente no carro verde-oliva, novinho em folha, cheirando capim gordura de manhã na beira do barranco.
O celular no banco do carona toca. Atende: "Vagabundo, ladrão safado, você vai ter comigo! Entrou numa fria meu!"
Não entende nada do que está passando. Acelera. Atravessa o deserto do sinai do sinal vermelho, enquanto o trânsito parece embrenhado em algas marinhas. Lembranças.... A praia? Só daqui a duas semanas. O celular de novo: "Pensa que vai me enganar? É ruim, einh? Já estou no teu encalço!".
Raul olha pelo retrovisor. Percebe um carro em vai e vem, cruzando e costurando o que for de brecha no meio daquela muvuca. Marca de zorro somada com buzina.
Não entende nada. Acelera mais e mais. Precisa escapar daquela incompreensivel perseguição.
Resolve voltar pelo quarteirão. Dobra a direita. Fura o sinal. Os caras atrás. O primeiro tiro quebra o vidro traseiro.
O segundo tiro acerta-lhe o ombro direito. O celular toca de novo. Não dá para atender. Vai na mesma marcha. Quarta direto.
A padaria aparece na frente. Percebe seu carro verde-oliva perto da banca de revistas. O vendedor da concessionária falara que era o único! Único? Foi só argumento de venda!
Joga-se para cima de seu carro. Colidi brutalmente. Uma bala atravessa-lhe a cabeça.
Já não se pode mais fazer poemas como Garcia Lorca, neste mundo também maluco. "Verde que te quiero verde?" Mas quem sabe....."verde carne, pelo verde, soñando en la mar amarga."
Garcia Lorca com seu poema ROMANCE SONÂMBULO e este conto que bem poderia chamar-se: LA MUERTE SONÂMBULA!

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