domingo, 5 de setembro de 2010

CENTRO VERSUS PERIFERIA

Nossa forma social/história de enaltecer um centro diretor fora de nosso mundus vivendus possui raízes antigas de dominação e aculturamento, por onde a nossa razão de constatação de nosso mundo deveria avaliar com lentes mais microscópicas. Estas raízes iremos analisar por etapas, da forma como queremos demonstrar.
Desde os longínquos gregos, estes viam seus cidadãos como verdadeiros protótipos humanos em detrimento dos demais, sem nenhuma construção de humanidade como idéia, muito menos aquela que extrapolasse suas fronteiras.
Fora do farol de suas sociedades/estados, seria impossível acomodar quaisquer embarcações culturais... a não ser as freqüentes invasões medos-persas que os assombraram com suas tecnológicas bélicas, mas não os removeram do pensamento mundicentrista.
Esta prova está, quando o macedônio Alexandre Magno invade e domina o mundo grego e adjacências. Os gregos, ausentes de uma idéia única de sociedade, não conseguem sobreviver ao esfacelamento social e nem sob as matizes de outras mesclas culturais, advindas de suas periferias
O caminho estava aberto para os latinos como cultura emergente e por etapas assumem posição hegemônica no mare nostrum (mediterrâneo). Desta vez os filhos do Lácio se julgavam superiores aos demais e a idéia do homem latino imperou por um milênio e meio. Como prova desta tese, a latina foi uma língua mundial na sua época, estando codificada em nossa própria língua por via portuguesa e assim presente nas línguas italiana, francesa, espanhola, etc. transferindo o ancestro de toda a sua cultura.
A nossa península de origem, juntamente com a nossa Mãe - África sucumbiu com nossos antepassados, assim como também sucumbiram as civilizações ameríndias, diante do impacto da visão eurocêntrica. Os iberos e os celtas, seus milenares habitantes, não conseguiram sobreviver sobre o impacto das invasões romanas.
A partir do século V chegaram os visigodos que foram também aculturados aos poucos. Como demonstramos os iberos, os celtas, os visigodos, embora europeus, eram na visão latina, povos de periferia.
Sob este aspecto foram recebidos os árabes a partir do século VIII, junto com os afro-mediterrânicos. Embora a cultura islâmica fosse a mais adiantada daquele momento em matemática, química, astronomia, filosofia, literatura, tecnologia, o que persistiu em sete séculos de luta, foi a visão etnocentrista européia.
Como podemos demonstrar historicamente, o pensamento de dominação está sempre relacionado à lógica de centro versus periferia e dentro de um quadro destes, não seria difícil de perceber, qual seria o destino dos africanos nossos irmãos e dos povos indígenas. Provamos isto, no início de nossa colonização onde a relação comercial é de puro escambo, uma forma vergonhosa de negociação, onde um espelho, aguardente e outros badulaques são dados em troca da mata atlântica, das ervas medicinais, da noética vida adâmica dos brasis que dançavam ao sol e cantavam solenemente sob os mistérios da lua.
Face ao perigo da concorrência de invasões de seus vizinhos estrangeiros, os portugueses buscaram a valorizar suas colônias, ou seja, subjugá-las com mais controle e maior centralização de poder europeu. Então surge uma expansão econômica da circulação de mercadorias, como venho a demonstrar, por uma ocupação de complementação produtiva, onde circulação e produção de atividades coexistem como economias complementares em direção a um centro de decisão: A COROA PORTUGUESA.
Somos, somente através do poder real português, fornecedores de produtos de tudo que houvesse em nossa terra (a terra que tudo dá, conforme a carta de Pero Vaz de Caminha), para satisfazer ao mercado externo português em sociedade com os holandeses, pois neste momento seu comércio desenvolveu dirigido pelos judeus, expulsos de Portugal e Espanha, pela Santa Inquisição aliada a seus Reis.
A presença da Igreja é interessante, também como ideal eurocêntrico, pois participou na expulsão árabe da península ibérica e como a realeza portuguesa vivia esmagada entre a disputa de poderes da nobreza de um lado e da classe administrativa de outro lado, a Igreja se aliou à Realeza, como um terceiro poder, fortalecendo-a e tornando-a imbatível.
Acontece que a economia européia, diante da crise do feudalismo, necessitava de muita concentração de poder e mais do que antes, de um acúmulo de capital e este acima de tudo de um espaço cada vez maior de dominação. Imaginem tudo isto somado ao procedimento europeu de poder através do eixo centro-periferia.
Assim a colônia se transforma em uma refém da metrópole, para a acumulação de capital dentro de um sistema colonialista e mercantilista. Comprova-se assim, o ideal econômico português que não difere do ideal centro-europeu, de exploração total com um caráter centro-periferia.
Não confundamos a colonização americana do norte, como outra espécie de sistema colonial, pois na verdade devemos considerar como resultado de uma crise interna dentro da Europa, devido aos desajustes político-religiosos ocorridos durante séculos, assim como posteriormente ao desarranjo social provocado pela Revolução Industrial. Como colonização de povoamento escapou quando pode de uma intervenção direta da metrópole. De outra forma, no caso da Inglaterra, a imigração inglesa, foi um suportável alívio, face aos excedentes de mão de obra nas cidades inglesas, provenientes destas crises.
Porém, todos nós conhecemos a dominação inglesa no resto do mundo e não cabe a nós aqui, nos determos nesta questão eurocêntrica, uma vez que o enunciado está preso ao nosso modo vivendus brasileiro de ser. Esta análise fenomenológica de nossa sociedade, com o olhar sempre se voltando para a Europa como se fosse superiora a nós, está provada nesta dissertação, como origem numa formação cultural com milênios de existência, que vem se processando desde os antigos gregos até a formação de nosso país, após a invasão de Cabral em 22 de Abril de 1500, prevalecendo com outras matizes nos dias atuais.

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