quinta-feira, 23 de setembro de 2010

CONVITE POÉTICO

Sou poeta,
por isto vos empresto meus olhos,
meu coração e minha alma.
Através de meus olhos podereis ver
o que não percebia antes,
não somente as coisas misteriosas
que permanecem misteriosas,
mesmo após decifradas,
o que não é facil de entender,
porque o poeta não perde tempo
com teoremas e enigmas,
pois deles cuidam os cálculos e
o raciocínio lógico,
mas também de coisas singelas
que vale a pena notá-las, como
por exemplo um sol se pondo, uma flor
pelo canteiro do caminho, um pássaro
cruzando o céu,
do vosso viver cotidiano,
mas que estavam a anos luzes do vosso perceber.
Também vos empresto meu coração,
para sentir o que há de semente no pássaro,
o que há de ninhos trançados nas árvores e o
que há de fonte solar em tudo que há,
mas que estavam tão perto de vós,
que de tão perto se desfaziam ao longe.
Vos ofereço por último a minha alma,
para que possais intuir o ser,
o ser uno e permanente,
que vagueia no colorido do poente,
que esvoaça nos ramos das árvores,
que baila com o abrir e fechar das
asas dos pássaros,
cuja sinfonia vós não poderíeis ouvir
porque lançastes o ser para bem longe de vós.
Sou poeta porque não me afastei desta canção,
deixei que as meninas dos meus olhos brincassem
eternamente de pular corda na linha do horizonte.

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