sábado, 14 de agosto de 2010

OS MILITARES E NOSSA CONTRACENSURA

Prezado leitor, o que escrevo aqui é coisa séria. Envolve vidas, sangue, prisões, balas de fusis, devassa total de nossa Pátria. Relembra um chute no ventre de uma colega, dentro do cárcere, pé fardado na altura do umbigo aparecendo, abortando sete meses de uma gravidez adolescente. Brasil que ficou escondido debaixo do palco, por uma anistia ao avesso. Se você acessar o google "literatura capixaba / fundação cultural do es, clicar em quarta parta de 1951 a 1978", você verá meu nome no meio de outros, porém, não encontrará mais todos os outros no nosso meio. Pelo poema abaixo, ULTIMATO, representando nosso grupo, feito por Olival Mattos Peçanha, encontrará termos como: lutar pela vida, cidade sitiada, tempos mortos, colher o filho do povo, empunhar punho ou afago diante do inevitavel, prego em nós mesmos, ultimato contra o desamor, a violência, a fome, o medo, a fuga, somos os escolhidos, etc. Leia e verá até onde estávamos envolvidos contra a Ditadura Militar (a maldita).
Tatagiba estava sempre com a gente. Eu, ele, Olival atuávamos em segredo e com inteligência, de forma que nossa literatura fosse uma contracensura, para passarmos ilesos, pois para a censura nós já deixávamos algumas folhas soltas, de forma que abastecesse a sua idiotice.
Enganá-los não era fácil. Fazíamos mais força no disfarce do que na criação literária. Muitas vezes escrevíamos e não sabíamos que título colocar. Síndrome daquela época, onde vivendo num país sem pai nem mãe, a obra também nascia órfã. Um dia andando pela avenida, Tatagiba me falou: "estou com um livro legal, mas tenho dificuldade de aceitar o título nele. Me dá vontade de colocar alguma coisa ligada ao sol, ao universo, mas também não vejo sentido. Pronto está, mas este negócio de sol no céu, fica esquisito." Pensei, pensei: " escuta Tatá, estamos todos perplexos com o que passa nosso País. Estamos boquiabertos. Mas somos jovens e possuimos o sol da esperança. Por que você não coloca o título assim O SOL NO CÉU DA BOCA ?" Tatagiba olhou surpreso para mim: " estou indo para casa agora, este é o título que procurava!". Nem sonhávamos com computador naquele tempo e para mudar qualquer coisa escrita, era na máquina de escrever e tinha que escrever tudo de novo.
O SOL NO CÉU DA BOCA, que graças ao Eterno eu vi brilhar em nossa Pátria, mas fico triste ao pensar nos que morreram nos porões da DITADURA MILITAR, e não viram seu nascente.

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