sábado, 9 de outubro de 2010

KANT / CONTINUAÇÃO II

O pensamento de Kant é importantíssimo para todos nós, independente da profissão que exercemos. Ainda estou falando apenas da forma como Kant explicou a aquisição de nossa fonte de conhecimento. Estou na primeira parte que é a sensibilidade, por onde os objetos nos são dados. Depois falarei no intelecto, por onde os objetos são pensados. A intuição será vazia sem a presença dos conceitos, daí vem o equilíbrio entre a sensibilidade e o intelecto, cuja função é a lógica geral e a lógica transcendental. Mas deixemos o intelecto para depois.
A questão de Kant era esta: de que juizos se vale a ciência? Certamente que de proposições ou juizos universais, necessários e que desenvolvam este conhecimento. Vamos então ver o que são juizos, para encontrarmos os da validez científica.
Um juizo é a junção de dois conceitos, onde um é sujeito e o outro predicado.
a)Se digo "todo corpo é extenso", o predicado "é extenso", torna-se óbvio com o sujeito "todo corpo". Extensão é sinônimo de corporeidade. Este juizo é analítico. Ele é a priori, pois não precisamos da experiência para enunciá-lo. Ele é universal e necessário, mas não aumenta o conhecimento. Necessário é quando não há espaço para a contradição.
A ciência pode usar este juizo, mas não é o seu principal, e não pode ser este juizo analítico a priori.
b)Se digo "todo corpo é pesado", o predicado está acrescentando algo ao sujeito. Pesado não é sinônimo de corporeidade. É um juizo ampliador do conhecimento. É um juizo sintético baseado na experiência. Ele é a posteriori, mas sem universalidade e necessidade. O peso de um corpo pode variar em locais diferentes. Veja que Kant conhecia profundamente o pensamento de Newton e Leibnz. Ele é um juizo sintético a posteriori. Não é o principal juizo da ciência.
c)Quando eu digo 23 + 17 = 40 ou "a reta é o menor caminho entre dois pontos" , "por mais que o mundo se modifique a quantidade de matéria é sempre a mesma", entre outras afirmações científicas, estou usando juizos sintéticos a priori, na base da intuição (veja no artigo anterior intuições e conceitos).
Olhe que interessante: estou usando juizos sintéticos a priori e não a posteriori. Estou unindo a aprioridade com necessidade e universalidade.
Vamos pensar nos fundamentos dos juizos estudados:
a)nos juizos analíticos a priori, o sujeito se equivale ao predicado, então seu fundamento está no princípio da identidade e da não-contradição. Não posso dizer que o corpo não é extenso!
b)O fundamento dos juizos sintéticos a posteriori, já que são experimentais, é a própria experiência.
c)Os juizos sintéticos a priori(os principais da ciência) não conectam predicados iguais ao sujeito, mas diferentes, então não se firmam no princípio da identidade e de não-contradição.
Não se baseiam na experiência porque são a priori e são universais e necessários. E agora, como solucionar a incógnita X, isto é "O que é a incógnita X, na qual se apóia o intelecto quando crè encontrar fora do conceito A um predicado B, estranho a ele e que, apesar disto, acredita estar conjugado a ele?". Responder a esta questão é a alma e o cerne do criticismo.
Vamos lá. A matemática no seu início entre os povos antigos era simplória. Porém, quando Thales de Mileto abstrai a geometria, principalmente na questão do triângulo isósceles, percebe-se que não se apegou na figura exterior dele aqui fora, mas que aquilo brotou dentre dele, de seus conceitos internos, de sua intuição e seus conceitos interiores. Ele não apreendeu leis na figura vista, mas foi uma gestação interna de sua mente que produziu aquilo tudo, que depois se voltava também reproduzido.
A mesma coisa na fundação da ciência moderna. A física ficou aristotélica desde Aristóteles a Galileu (em próxima ocasião escrevo como era a física de Aristóteles, agora o assunto é outro). Porém seja Galileu escolhendo pesos e planos inclinados; seja Torricelli suportando no ar um peso que ele já sabia qual era numa coluna d'água pré determinada, ambos estavam a priori impondo intuição e conceitos da razão sobre a natureza. Era a razão que primeiro movimentava para depois compreender o movimento da natureza. A razão estava fabricando artefatos para mensurar a natureza.
Então Kant fez uma revolução igual a Copérnico com seu pensamento. Copérnico percebendo que a terra parada e o universo rodando em volta dela, não dava para explicar todos os fenômenos universais, inverteu seu raciocínio, colocando a terra em movimento ao redor do sol.
Kant descobre que não é pesquisando os objetos que descobrimos como eles são. Pelo contrário a tomada do mundo externo vai refletir em nós como nós somos em nossas possibilidades, e que conhecemos como fenômenos e nunca saberemos como eles são em sua essência mesma. Os objetos se manifestam em nós pela condição de nossa natureza. Kant dizia que das coisas nós só conhecemos a priori aquilo que nelas mesmas colocamos. Suponhamos que você tem uma máquina fotográfica programada da seguinte forma: toda coisa reta nela se projetaria como sons: toda cor nela seria espaço; todo som nela seria tempo, etc. Agora imagina você fotografando o mundo com esta máquina. Nós somos uma máquina fotografando o mundo. O que sabemos do mundo, que acreditamos que ele seja, são as fotografias que obtemos dele através de nossa sensibilidade e intelecto. Nunca saberemos como ele é realmente. Mas deixo uma coisa em aberto: a razão com suas leis pode alcançar a lógica como o universo é desenvolvido. Neste segredo e nesta mágica nós devemos nos amparar. Você é que vai se aprofundar neste trabalho. Futuramente também vou escrever sobre Parmênides na questão do SER e você vai ficar encantado. Acredito que tanto Descartes como Kant, entre outros, estavam assentados sobre Parmênides e até agora, ninguém percebeu realmente a profundidade de seus pensamentos.
Está demonstrado o fundamento dos juizo sintéticos a priori: é o sujeito que sente e pensa, com suas leis da sensibilidade e do intelecto.
Continuaremos com este assunto de extrema beleza científica.

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