domingo, 24 de outubro de 2010

A PRIMAZIA DA RAZÃO SOBRE A RAZÃO PURA TEÓRICA - KANT X - ÚLTIMO ARTIGO

Com este último artigo, fechamos o trabalho sobre Kant e você tem em suas mãos um compêndio que lhe dá condições de entender o pensamento desta grande mente filosófica da humanidade. Lembro que é um resumo homeopático de uma obra vastíssima e de dezenas de anos do trabalho intelectual de Kant, mas que leva à compreensão de um pensador que não é fácil de ser compreendido pela simples leitura de seus livros.
Justapondo a lei moral de um lado e a vontade pura do outro lado, estamos diante da autonomia ou heteronomia da vontade. Os princípios da moralidade que se ajustam aos conteúdos empíricos da ação, embasados nas éticas, mandamentos, castigos, penas, recompensas, etc. são heterônimos. A lei puramente formal que não se origina em conteúdos empíricos, mas que tem seu privilégio no lugar da consciência é autônoma. Este é o lugar psicológico, o reino da moral, o porquê da conduta moral, a voz da consciência. Kant: "age de tal maneira que o motivo, o princípio que te leva a agir, possas tu querer que seja uma lei universal".
Das condições da ciência extraimos as condições do conhecimento e das condições da lei moral as nossas condições de agir. As condições do conhecimento dependem do espaço/tempo/categorias, etc. em prol dos fenômenos internos, mas as condições do agir não dependem exclusivamente disto. Aí está a grande genialidade kantiana. É o mundo das realidades supra sensíveis, inteligíveis, em outra dimensão da consciência, num lugar incognoscível, tendo nosso eu duas formas: um eu conhecendo a natureza e um eu supra sensivel, na dimensão da consciência moral.
Neste momento penso uma coisa: não é em vão que criaram a Bioética! Dá para entender cientistas fazendo adubos químicos, armas nucleares, cientistas submetidos à indústria farmacêutica que te repara um fígado ao mesmo tempo que te arruina os rins, etc.? Este é o postulado da liberdade quando o homem não se rende ao mundo sensivel e reina no mundo supra sensivel, que é o lugar psicológico da consciência moral.
Quando você escapa do mundo das formas, do sensivel, do tempo, do espaço, das categorias, das causas e efeitos, das idéias do princípio e fim, do corpóreo versus anímico, você entra no reino da imortalidade do mundo supra sensivel da consciência psicológica moral. Isto é o que Kant chama de santidade. Não deixa de ser uma crença inabalavel na imortalidade da alma.
Com a liberdade moral, com a imortalidade, extinguindo o abismo que há entre o ideal e a realidade compreendemos a Deus. O mundo fenomênico de causas e efeitos que se afunda na tragédia humana da maldade e da injustiça se equipara ao distanciamento de Deus. A supra sintese que pretende reunir em nós o ideal ao real é a idéia de Deus. A razão prática nos conduz às verdades da metafísica. A razão teórica está a serviço da razão prática, sendo um trâmite entre o mundo fenomênico e o lugar psicológico da moral, uma passagem do mundo fenomênico ao mundo essencial supra sensivel das almas, do universo e de Deus.

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