terça-feira, 12 de outubro de 2010

KANT V: a partir da lógica formal de Aristóteles, os juízos, as categorias e o sujeito cognoscente, o "eu cognoscente"

Aristóteles dividiu os juízos conforme quatro modos: segundo a quantidade, segundo a qualidade, segundo a relação e segundo a conformidade(quantidade/qualidade/relação/conformidade), sendo que cada um deles se divide em três tipos de juízos.
Pela quantidade os juizos podem ser: individuais, particulares e universais. Se digo que x é y, isto é "Pablo é espanhol", o juízo é individual.
Se digo alguns x são y, o juízo é particular. Se digo que todo x é y, o juízo é universal. Pablo é espanhol(individual); alguns Pablos são espanhóis(particulare); todos os Pablos são espanhóis(universal).
Pela qualidade os juízos são afirmativos, negativos e infinitos. Se digo x é y (caso do Pablo é espanhol), é de qualidade afirmativa. Quando não predica o predicado do sujeito, por ex. "a matemática não é fácil...", o juizo é de qualidade negativa. Quando predica do sujeito a negação do predicado, por ex."os carros não são meios de transporte aquático", estamos afirmando que exitem meios de transporte aquático e deixamos em aberto que existem vários tipos de carros. Este juízo é de qualidade infinita.
Pela relação os juízos podem ser: categóricos, hipotéticos e disjuntivos. Categórico: sem condição nenhuma o predicado é do sujeito "o ar é pesado". Hipotético: afirma o predicado é do sujeito sob condição "se X é Y, então é Z... Se Pablo é espanhol, então é europeu". Disjuntivo: quando alterna um ou outro predicado "X é Y ou Z... Pablo é espanhol, francês ou português".
Pela modalidade os juízos podem ser problemáticos, assertórios e apodíticos. Um juízo é problemático quando predica do sujeito um predicado possivel: X pode ser Y. No juízo assertório o predicado se afirma do sujeito: X é Y. No juízo apodítico o predicado se afirma do sujeito sendo necessariamente predicado do sujeito: X necessariamente tem que ser Y(a soma dos ângulos internos de um triângulo tem que ser dois retos, não podendo ter outro resultado de soma).
Kant foi mais além, raciocinando assim: se a cada juízo corresponde uma forma de ver a realidade, a ele adicionando categorias ficarei mais perto de perceber com mais clareza esta realidade, assim a cada juízo vou extrair de forma mais perfeita uma correspondência na realidadel, aperfeiçoando meu ato de julgar.
Assim, os juizos individuais contém a UNIDADE. Os juízos particulares contém a PLURALIDADE. Os juízos universais contém a TOTALIDADE.
Os juízos afirmativos, negativos e infinitos, contém a ESSÊNCIA, no seu sentido de ESSÊNCIA, NEGAÇÃO e LIMITAÇÃO.
Os juízos categóricos contém a categoria de SUBSTÂNCIA com propriedade desta substância. Os juízos hipotéticos contém a CAUSALIDADE de CAUSA e EFEITO. Os juízos disjuntivos contém a categoria de AÇÃO RECÍPROCA.
Os juízos problemáticos contém a categoria de POSSIBILIDADE. Os juízos assertórios a categoria de EXISTÊNCIA. Os juízos apodíticos a categoria de NECESSIDADE.
QUE SENTIDO TEM TODO ESTE TRABALHO DE KANT COLOCANDO AS CATEGORIAS SOBRE OS JUÍZOS DA LÓGICA FORMAL DE ARISTÓTELES?
Agora vem a parte mais importante da crítica da razão pura, o núcleo gerador do pensamento de Kant e que se chama:
DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL DAS CATEGORIAS.
Todos estes textos escritos em poucos artigos são uma síntese de várias obras e anos de trabalho de Kant que foram refeitas várias vezes por ele próprio.
As categorias são as condições possiveis dos juízos sintéticos a priori na Física. As condições do conhecimento são as condições da objetividade. Todo o conhecimento matemático, físico, tudo o que o homem acumulou com o seu esforço de vontade, todo o seu conjunto sistemático de teses,como as coisas se movem, as leis de causa e efeito, o aparecimento e desaparecimento das coisas, a inter-relação entre as coisas, como fiel expressão da realidade das coisas, da qual não podemos duvidar, que possuem necessidade e universalidade, são possiveis pelo homem por quais condições?
Sob as condições que existam objetos e que eles tenham um estado de ser(sejam um ou múltiplos, reúnam-se ou não em totalidades, sejam substâncias com propriedades, tenham causas e efeitos, efeitos com causas, ações e reações,...), ou seja sem estas condições do estado de ser das coisas, não haveria conhecimento.
Mas sendo que as coisas só nos enviam impressões, é óbvio que elas não tem condições de nos enviar julgamentos de unidade, totalidade, pluralidade, ação, reação, causa, efeito, etc. Se ficássemos dependendo das coisas para nos enviar categorias através de impressões, nós não teríamos segurança alguma do conhecimento científico e nem caberia nenhum esforço para produzí-lo. Só se encontra segurança daquele argumento que você alcança por você mesmo, com o seu próprio intelecto.
Então, as possibilidades das categorias que levam ao verdadeiro conhecimento das coisas, somos nós que colocamos nos fenômenos, elas são nossas mesmas, da nossa natureza mais subliminar e íntima, elas são a priori, puras em nós.
Portanto, arregace a manga de sua camisa que você tem condições plenas de descobrir muita coisa com respeito à essência da natureza(em grego physis).
Daí que vem a inversão copernicana de Kant. São as coisas que se ajustm aos nossos conceitos/intuições/categorias e não nossos conceitos que se ajustam às coisas. As categorias são conceitos puros a priori que nós não extraimos das coisas, mas impomos nelas.
O conhecimento aparece quando o homem assume-se como SUJEITO DO CONHECIMENTO. Quando o "eu" quer conhecer, torna-se SUJEITO COGNOSCENTE, imprimindo nas coisas as categorias que são conceitos puros a priori.
Quando o homem começa a perguntar "o que é isto? como funciona isto?", ele deixa de ser um "eu biológico", para ser um "eu superior", um "eu cognoscente". Neste momento o homem ergue-se por cima de todos os animais e todos os outros homens, porque assumiu uma posição de caráter científico. Cresce o "eu" e cresce o objeto, pois um se eleva sobre a humanidade e o outro deixa de ser um esquecimento ou um amontoado de impressões. Quando o "eu" assume as categorias de unidade, pluralidade, totalidade, causa, efeito, substância, e todas estas categorias e entra na relação do conhecimento, o "eu" aproxima-se da unidade do sujeito cognoscente.
Como vimos nestes artigos, a sensibilidade tem duas formas ou estruturas a priori que são o espaço e o tempo. O intelecto tem dozes formas ou estruturas a priori que são as categorias. A unificação da sensibilidade com o intelecto produz o conhecimento puro a priori que temos das coisas.
Em próximos artigos falarei sobre as faculdades da razão e as idéias da razão, porque a razão tem tres formas ou estruturas a priori que são as idéias.

Um comentário:

  1. Maravilhoso esse artigo, estava enrolada tentando entender a primeira parte da analítica transcendental e agora já posso me situar um pouco..Mas poste mesmo homi esse novo artigo sobre as faculdades da razão e as ideias da razão estou ansiosa...obrigada!!!!!!!!

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